Dino de Alcântara
Qualquer que seja a encruzilhada, perto ou longe das
casas, sempre será vista como um lugar misterioso. Em Édipo Rei, de Sófocles, foi num lugar desse tipo que o príncipe
matou o próprio pai, Laios, cumprindo a velha maldição do rei da Élida. Em Grande Sertão Veredas, de Guimarães
Rosa, o suposto pacto entre Riobaldo e o Demônio foi feito num entroncamento.
Embora Raimundo Paiaco não fosse leitor nem do tragediógrafo
grego nem do revolucionário da Geração de 45 do Modernismo Brasileiro, tinha lá
suas impressões acerca do cruzamento de caminhos. Para ele, era lá que ficavam
as visagens, sobretudo nas noites escuras, em que a lua não alumia o céu
escuro.
Numa noite, de escuridão total, munido de um farol
de morrão grosso, vindo de uma boa e longa conversa na casa do compadre
Mariano, nosso personagem se lembrou de vários defuntos, justamente quando foi
se aproximando da misteriosa encruzilhada do oitizeiro. Um friozinho percorreu-lhe
a espinha. Imaginou tratar-se de um vento gelado vindo do porto. Mas, à medida
que foi se chegando mais próximo de um tuncunzeiro, ouviu uma voz (longe).
Imaginou que era um bicho. Uma raposa ou um quati. Quando cruzou o nó do
caminho, um sopro forte apagou-lhe o farol. Novo arrepio nas costas. Pegou a caixa
de fósforos e acendeu novamente o morrão. Deu dois passos, e novo sopro. O medo
começou a percorrer os seus neurônios. O batimento cardíaco acelerou. Uma leve
tontura veio à cabeça. Tentou pegar novamente um palito de fósforo, mas não a
encontrou. Impressionante! Porque havia acabado de acender um palito. Enfim
estava na própria mão esquerda. Acendeu. A luz raiou novamente. Deu mais uns
três ou quatro passos, e um sopro, como se fosse de gente, apagou a chama,
deixando o caminho numa escuridão feia. Uma risada veio atordoar o seu espírito.
Nessa hora, Paiaco não conseguiu mais pensar em nada, só em fugir, correndo
como um porco-do-mato no Apicum da Ilha Grande. Uma sensação estranha o
acompanhou até chegar em casa. Era como se estivesse sendo seguido por alguém.
Nunca mais Paiaco cruzou esse caminho sem antes
fazer o pelo sinal.
Ótimas histórias para serem contadas em uma rodada de cerveja.
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