terça-feira, 9 de maio de 2017

OFÊNDIA E OS DOIS AMANTES



 Dino de Alcântara

Conta-nos Orlando do Itapeua que, quando alguém quer saber se uma mulher do início do século XX era bonita precisa consultar os sábios antigos, isto é, os mais velhos. Dessa forma, recorrendo aos mais idosos moradores do Cujupe, descobrimos que Ofêndia era das mais bonitas mulheres de sua geração. Curvas sinuosas nos quadris, seios bem talhados, boca bem desenhada, com dentição normal, entre outros atributos. Foi por conta desses e de outros predicados que o velho Sinhuca se engraçou da bela moça de seios formosos. Logo passou a frequentar a casa da deusa Vênus. Foram meses de pura felicidade, mas as mulheres bonitas têm um inconveniente grave: atraem muitos olhares masculinos. Um desses olhares (correspondido, aliás) atendia pelo nome de Alexandre Brito – por coincidência, irmão de Sinhuca.
Ofêndia entregou os dotes e o amor aos dois mancedos sem problemas. Mas, numa noite de junho, em que a chuva deu uma trégua para os lados da Sirimônia, saiu o jovem Alexandre cheio de testosterona direto para casa da musa. Ao entrar na casa, não se sabe se por medo de o irmão mais velho chegar a qualquer momento ou se por precaução mesmo, passou a tranca na porta e reforçou com uma escora. Feito isso, lançou-se sobre a rede de Ofêndia como se fosse Ulisses nos braços de Penélope. Saciado dos prazeres carnais, não resistiu e pediu ao sono forças para uma segunda viagem à ilha dos prazeres. No sono profundo, sonhou que Sinhuca entrava pela porta roubando a sua bela ninfa. Acordou meio sobressaltado. Levantou e tomou uma caneca de água do pote. Foi aí que percebeu um toque leve na porta. A princípio, pensou tratar-se de Chibé, o cão da casa. Mas, depois, viu que se tratava de mão de gente. Ouviu um sussurro. Não podia ser Sinhuca. Não tinha dado tempo de chegar da cidade. Ou era? Não. Pararam de bater. Sentiu um alívio. Isso era ótimo.  Estava com a bexiga a ponto de estourar. Precisava ir no mato aliviar. Não gostava de penico. Isso era coisa de mulher. Não. Homem vai no mato mesmo. Tirou a escora da porta. Abriu-a caladinho e saiu no terreiro. Nem sinal de Chibé. Imaginando ser algum amante à procura de amor, disse bem alto:
 – Homem que é homem não se atrasa! Perde a vez!
Foi até perto do bananal. Desobrigou a bexiga com jeito, encharcando um pé de bananeira nanica.
Nesse momento, enquanto Alexandre aliviava o ventre, Sinhuca, que havia chegado havia pouco da cidade, aproveitou a oportunidade e entrou na “mansão dos prazeres”. Não se sabe o que disse a Ofêndia, mas ela nada disse, aceitou de bom grado que era a vez de Sinhuca, etc.
Minutos depois, um calmo Alexandre tentava em vão entrar na casa.  Como experimentou a porta e viu que estava trancada, talvez até com a escora, gritou do lado de fora para Ofêndia abrir, mas só ouviu uma voz que reconheceu ser do irmão mais velho:
– Alexandre, homem que é homem não sai pra mijar deixando a porta aberta! Perde a vez!
E pulou na rede de Ofêndia!

Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkk, muito boa. Sinhuca é esperto demais. Essa Ofêndia devia ser a própria deusa Venûs.

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