Dino de Alcântara
Conta-nos Orlando do Itapeua que, quando alguém
quer saber se uma mulher do início do século XX era bonita precisa consultar os
sábios antigos, isto é, os mais velhos. Dessa forma, recorrendo aos mais idosos
moradores do Cujupe, descobrimos que Ofêndia era das mais bonitas mulheres de
sua geração. Curvas sinuosas nos quadris, seios bem talhados, boca bem
desenhada, com dentição normal, entre outros atributos. Foi por conta desses e
de outros predicados que o velho Sinhuca se engraçou da bela moça de seios
formosos. Logo passou a frequentar a casa da deusa Vênus. Foram meses de pura felicidade,
mas as mulheres bonitas têm um inconveniente grave: atraem muitos olhares
masculinos. Um desses olhares (correspondido, aliás) atendia pelo nome de Alexandre
Brito – por coincidência, irmão de Sinhuca.
Ofêndia entregou os dotes e o amor aos dois
mancedos sem problemas. Mas, numa noite de junho, em que a chuva deu uma trégua
para os lados da Sirimônia, saiu o jovem Alexandre cheio de testosterona direto
para casa da musa. Ao entrar na casa, não se sabe se por medo de o irmão mais
velho chegar a qualquer momento ou se por precaução mesmo, passou a tranca na
porta e reforçou com uma escora. Feito isso, lançou-se sobre a rede de Ofêndia
como se fosse Ulisses nos braços de Penélope. Saciado dos prazeres carnais, não
resistiu e pediu ao sono forças para uma segunda viagem à ilha dos prazeres. No
sono profundo, sonhou que Sinhuca entrava pela porta roubando a sua bela ninfa.
Acordou meio sobressaltado. Levantou e tomou uma caneca de água do pote. Foi aí
que percebeu um toque leve na porta. A princípio, pensou tratar-se de Chibé, o
cão da casa. Mas, depois, viu que se tratava de mão de gente. Ouviu um
sussurro. Não podia ser Sinhuca. Não tinha dado tempo de chegar da cidade. Ou
era? Não. Pararam de bater. Sentiu um alívio. Isso era ótimo. Estava com a bexiga a ponto de estourar. Precisava
ir no mato aliviar. Não gostava de penico. Isso era coisa de mulher. Não. Homem
vai no mato mesmo. Tirou a escora da porta. Abriu-a caladinho e saiu no
terreiro. Nem sinal de Chibé. Imaginando ser algum amante à procura de amor, disse
bem alto:
– Homem que
é homem não se atrasa! Perde a vez!
Foi até perto do bananal. Desobrigou a bexiga com
jeito, encharcando um pé de bananeira nanica.
Nesse momento, enquanto Alexandre aliviava o
ventre, Sinhuca, que havia chegado havia pouco da cidade, aproveitou a
oportunidade e entrou na “mansão dos prazeres”. Não se sabe o que disse a Ofêndia, mas ela nada disse, aceitou de bom grado que era a vez de Sinhuca,
etc.
Minutos depois, um calmo Alexandre tentava em vão
entrar na casa. Como experimentou a
porta e viu que estava trancada, talvez até com a escora, gritou do lado de
fora para Ofêndia abrir, mas só ouviu uma voz que reconheceu ser do irmão mais
velho:
– Alexandre, homem que é homem não sai pra mijar
deixando a porta aberta! Perde a vez!
E pulou na rede de Ofêndia!
kkkkkkkkkkkkkk, muito boa. Sinhuca é esperto demais. Essa Ofêndia devia ser a própria deusa Venûs.
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