Dino de Alcântara
Sempre que o Censo do IBGE aparecia para as bandas
do Cujupe, os moradores ficavam sobressaltados, imaginando que, diante de um
aumento da renda, as mercadorias poderiam aumentar mais do que já aumentavam.
Na casa do Mariano, o homem do Censo chegou perto
das onze horas de uma quinta-feira. Já tinha passado por outras casas do
povoado, sempre anotando numas folhas que guardava com cuidado. A primeira
pergunta que fez, considerando o jeito da casa, tudo no lugar, rádio grande,
rede bonita, etc., foi sobre a renda, isto é, se era aposentado e se recebia
uma ou duas aposentadorias. Mariano disse que só uma – “E olhe lá!” Como estava
com roupa de roça, pediu licença ao recenseador para se trocar. Foi caminhando
em direção ao quarto, mas antes que entrasse, retirou a bermuda de trabalho. Como
estava desprevenido, o funcionário do IBGE pôs vista em suas vergonhas. Como
era do tipo que atracava de popa, no dizer de Tralhoto, forçou bem a vista para
ver direito, meio espantado com a grandeza macha.
Meia hora depois, terminado
o questionário, o recenseador guardou todos os papeis, apertou a mão do morador
e, com um risinho sem vergonha nos lábios, olhando para as partes de Mariano: “Você
merecia ter duas aposentadorias!”
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