terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O DEDINHO DO GARUPA

O trânsito estava, como sempre naquela hora, tenso. Uma Honda, dirigida por um boliviano de trinta anos, carregava também um garupa. Na faixa dos vinte e cinco anos, esse flamenguista tinha, ao contrário do piloto, um amplo conhecimento do que Zé Sarney chama de maranhensidade. Tinham que contornar a Avenida Jerônimo de Albuquerque na altura no Espetão. Era fácil. No entanto, muitos carros se espremem no sinal em frente da Bela Napoli. O sinal está amarelo. O motoqueiro tem uma idéia, que raramente é seguida por algum maranhense, sobretudo no trânsito: contornar logo e entrar direto na avenida, sem o contorno ao lado da Convel. Mas eis que surge um olhar, que mais parecia um radar. Um guarda da SMTT, escondido atrás da parada logo acima, já preparadíssimo para, com uma caneta Bic, aplicar uma multa severa no infeliz condutor daquela moto. Mas eis que surge um doutor em maranhensidade. A mão esquerda, graúda (daria até para entrar no time titular do Maranhão Handebol), tapou completamente a placa, deixando escapar apenas um H (do início). Com a outra mão, o garupa, espremeu os quatro dedos, deixando o do meio – também conhecido como médio (ou dedo do proctologista), totalmente à mostra como uma espada em direção ao agente de trânsito. O homem da lei forçou o mais que pode, mas não conseguiu enxergar as letras ou os números da placa. Ficou furioso. Várias pessoas começaram a sorrir. Triste sensação essa em que somos obrigados a engolir nosso ódio, sem poder saborear um gosto amargo (ou doce) da vingança. Surge o ônibus do Cohatrac. O agente dá um sinal e entra no coletivo. Entra sem dar bom dia. Vá pro inferno! Pensa. Já estava com minha comissão. Droga! Mas à frente entra um garoto. Qualhira! Está com ódio. Ainda por sina me deu o dedo! Desgraçado! E o ônibus, já sem assentos disponíveis, desce a curva do noventa. Sai uma mulher e cruza a catraca. E ele se senta. Vai pro corisco, cão. E olha para a moça. E o ônibus segue.

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