quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

GREGÓRIO E O HOMEM QUE VIRAVA BICHO


Todos no Cujupe diziam nas casas de famílias e nas quitandas que Cento-e-Trinta virava bicho. Mas ninguém tinha até então uma prova dessa metamorfose, como dizia o professor Jonas. Quando bebiam na quitanda do Barbino, Gregório sempre dizia a  Cento-e-Trinta que, caso ele virasse lobisomem e aparecesse, iria montado num bichão para casa. E o famoso negro do Cujupe sempre ria, dizendo que um dia ainda ia montar em Gregório, como se monta num jumento. Gregório dizia que só no dia de São Nunca.
Certa feita, numa sexta-feira de agosto, vindo da quitanda, e passando na Campina próximo ao Guariba, Gregório viu um Jabuti enorme sobre o capim. Correu para o bicho,que nem se moveu, como se estivesse à sua espera. Examinou bem o animal e descobriu que era uma jurará ou uma campininga. Mas muito grande. Talvez uma tartaruga. “Não! Poderia ser um jabuti.” Examinou o casco com o facão de bainha. Tudo perfeito. Não teve dúvida: pegou o bichão, colocou no ombro e tocou para casa, no Itapeua. Quando chegou, pegou um chucho com ponta bem afiada e fez um furo no casco. Passou uma corda de embira bem resistente e amarrou num esteio para o bicho não fugir durante à noite. No dia seguinte, mataria o animal para comer. E foi dormir, certo de que, no dia seguinte, teria carne fresca para comer. Quem sabe até daria um quilo para Ziquié.
No entanto, ao amanhecer, Gregório teve um sobressalto. Viu a embira desatada, sem corte, que pudesse denunciar uma roída na embira. “O jurará desatou o nó-cego!” Não entendeu como a réptil transpôs o batente de quase 40 cm. Mas fazer o que... O certo é que ele tinha fugido. Foi-se a carne.
Dias depois, na quitanda, tomando grode, Gregório encontrou novamente Cento-e-Trinta. Depois de uns dois goles de Pitu e Jurubeba, o negro falou bem perto do ouvido do companheiro de grode:
 – Grigoru, tu ia mesmo me comer, Grigoru?

E pediu mais um grode para Barbino. 

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