quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Palavras e Expressões do Cujupe


 
Ao se deparar com uma foto dessa na Internet, um cidadão de Belém ou de Porto Alegre diria, com indignação, que "Em pleno Século XXI os animais continuam a ser maltratados, como se não fossem também criaturas de Deus!" 
 
Mas, em se tratando de um morador do Cujupe, o enunciado sairia bem diferente:
 
Morador do Cujupe: "Os cabocos estão ajojando um elefantinho. O bicho está todo peiado, que não pode nem se mexer, berrando que é um doido. Tem um caboco com uma vara na mão. Essa vara tem um esporão de arraia na ponta para tutucar o rabo do elefante. Os outros estão preparados para ajojar o bicho, caso ele queira sapatear."

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O DOCE E O LICOR

Dino de Alcântara 

Quando Lázaro conheceu pela primeira vez a cidade de Alcântara, visitou a famosa lojinha destinada aos turistas, na subida do Jacaré.
ATENDENTE — Bom dia, moço! Deseja alguma coisa?
LÁZARO — Como se chama esse doce?
ATENDENTE  — É Doce de Espécie.
LÁZARO —  Pois me dê um, que eu quero provar!
ATENDENTE (Entrega a Lázaro o doce.) - Tome! É uma delícia!
LÁZARO (Devolve o doce.) - Não. Me dê um licor de jenipapo. Dizem que aqui tem o melhor licor do Maranhão.
ATENDENTE (Dá-lhe o licor.) - É excelente!
LÁZARO (Toma.) - Obrigado! É bom mesmo! Até logo!
ATENDENTE - Ei, moço, você não pagou o licor!
LÁZARO - Mas eu lhe dei o doce em troca.
ATENDENTE — Mas você também não pagou por ele.
LÁZARO - E por acaso eu comi?!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A ORIGEM DO POLÍTICO MARANHENSE


Dino de Alcântara

Quando os portugueses começaram a colonizar o que hoje se entende por Maranhão, um dos mais sagazes ladrões de Coimbra, para escapar da masmorra, aceitou transferir-se para o “quinto dos infernos”, como mais tarde seria a nação (re)significada pela boca nada pura da princesa Carlota Joaquina. Veio com a família (era o infeliz pai de três filhos) no navio que seguiria até Salvador, mas acabou desembarcando na Ilha do Maranhão (Upaon-Açu). 
Como era costume trazer toda espécie de animais domésticos, o homem trouxe gato, cachorro, porco, galinha, etc. 
Passados alguns anos, ele, que morava nas proximidades da Praia Grande, já conhecia muito bem a terrinha. 
Antes que o leitor seja tentado a crer que a origem dos políticos maranhenses seja esse pobre português, vamos mudar a cena. 
O gato que viera com a família de Portugal era um exímio caçador, mas havia um rato na casa que ele não conseguia pegar de jeito nenhum. Parecia até que o roedor sentia o cheiro de felino de longe. 
O gato, porém, teve uma ideia brilhante. Aproximou- se da toca e latiu como se fosse o cachorro. A imitação foi tão perfeita, que se uma cadela, no cio, estivesse nas proximidades da casa, sairia enlouquecida, mais veloz que o furacão Katrina, que devastou a cidade de Nova Orleans em 2005.
O rato, ao ouvir o latido, pensou: “O bicho não se une com o cachorro; isso quer dizer que ele está bem longe!” e saiu da toca. 
O gato abocanhou-o, mas não resistiu a uma boa gargalhada, deixando o indefeso animal com direito a uma última lição, infelizmente, para ele, desnecessária. O roedor queria saber quem tinha latido. 
O GATO - Eu! 
O RATO -  Mas com tanta perfeição?


O GATO —  Exato! 
O RATO — Eu nunca acreditaria que aquele latido era de um gato! 
O GATO — Ah, meu caro rato, nesta terra abençoada pela mentira, quem não aprender a enganar os outros passará fome! 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

GREGÓRIO E O HOMEM QUE VIRAVA BICHO


Todos no Cujupe diziam nas casas de famílias e nas quitandas que Cento-e-Trinta virava bicho. Mas ninguém tinha até então uma prova dessa metamorfose, como dizia o professor Jonas. Quando bebiam na quitanda do Barbino, Gregório sempre dizia a  Cento-e-Trinta que, caso ele virasse lobisomem e aparecesse, iria montado num bichão para casa. E o famoso negro do Cujupe sempre ria, dizendo que um dia ainda ia montar em Gregório, como se monta num jumento. Gregório dizia que só no dia de São Nunca.
Certa feita, numa sexta-feira de agosto, vindo da quitanda, e passando na Campina próximo ao Guariba, Gregório viu um Jabuti enorme sobre o capim. Correu para o bicho,que nem se moveu, como se estivesse à sua espera. Examinou bem o animal e descobriu que era uma jurará ou uma campininga. Mas muito grande. Talvez uma tartaruga. “Não! Poderia ser um jabuti.” Examinou o casco com o facão de bainha. Tudo perfeito. Não teve dúvida: pegou o bichão, colocou no ombro e tocou para casa, no Itapeua. Quando chegou, pegou um chucho com ponta bem afiada e fez um furo no casco. Passou uma corda de embira bem resistente e amarrou num esteio para o bicho não fugir durante à noite. No dia seguinte, mataria o animal para comer. E foi dormir, certo de que, no dia seguinte, teria carne fresca para comer. Quem sabe até daria um quilo para Ziquié.
No entanto, ao amanhecer, Gregório teve um sobressalto. Viu a embira desatada, sem corte, que pudesse denunciar uma roída na embira. “O jurará desatou o nó-cego!” Não entendeu como a réptil transpôs o batente de quase 40 cm. Mas fazer o que... O certo é que ele tinha fugido. Foi-se a carne.
Dias depois, na quitanda, tomando grode, Gregório encontrou novamente Cento-e-Trinta. Depois de uns dois goles de Pitu e Jurubeba, o negro falou bem perto do ouvido do companheiro de grode:
 – Grigoru, tu ia mesmo me comer, Grigoru?

E pediu mais um grode para Barbino. 

A JOVEM CORCUNDA



Um jovem do Cujupe, muito tímido, mas com certa quantia no bolso, fruto de uma boa caeira, retirada com a preciosa ajuda de Pedro Leitão, contratou os serviços de um agente para se casar, nos idos de 1960. Dizia que, até então, não tinha pensado em matrimônio, “mas já era hora, não?” 
No dia aprazado, João Feliciano (era esse o nome do cidadão) embarcou numa canoa até São Luís, onde encontrou o agente. Foram apressadamente à casa da noiva, ávido que estava o agricultor para ver sua futura mulher.. 

Ao conhecer a família da noiva, no Goiabal, o encanto finou-se. Reclamou ao contratante:

O NOIVO —  Não gostei nem um pingo da sogra. Que mulher mais antipática! 
O AGENTE — Você não vai se casar com ela, vai? Quem você quer é a filha dela. Então?! 

O NOIVO — Sim, mas você tinha me dito que ela era jovem e bonita. Tô vendo que ela não é tão nova assim e nem bonita. 

O AGENTE — Não importa. Veja, meu amigo, se ela fosse bonita, você seria escorneado facilmente, não é verdade? De modo que, ela sendo feia, você não corre esse perigo. 

O NOIVO — Se pelo menos ela tivesse dinheiro... 

O AGENTE — Você vai se casar com o dinheiro ou com uma mulher? 

O NOIVO (Ao observar a noiva atentamente.) Ei, ela tem uma corcunda nas costas! 
O AGENTE — Bem, o que você quer mais? Não podia ela ter um único defeito? Assim já é querer demais.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O DEDINHO DO GARUPA

O trânsito estava, como sempre naquela hora, tenso. Uma Honda, dirigida por um boliviano de trinta anos, carregava também um garupa. Na faixa dos vinte e cinco anos, esse flamenguista tinha, ao contrário do piloto, um amplo conhecimento do que Zé Sarney chama de maranhensidade. Tinham que contornar a Avenida Jerônimo de Albuquerque na altura no Espetão. Era fácil. No entanto, muitos carros se espremem no sinal em frente da Bela Napoli. O sinal está amarelo. O motoqueiro tem uma idéia, que raramente é seguida por algum maranhense, sobretudo no trânsito: contornar logo e entrar direto na avenida, sem o contorno ao lado da Convel. Mas eis que surge um olhar, que mais parecia um radar. Um guarda da SMTT, escondido atrás da parada logo acima, já preparadíssimo para, com uma caneta Bic, aplicar uma multa severa no infeliz condutor daquela moto. Mas eis que surge um doutor em maranhensidade. A mão esquerda, graúda (daria até para entrar no time titular do Maranhão Handebol), tapou completamente a placa, deixando escapar apenas um H (do início). Com a outra mão, o garupa, espremeu os quatro dedos, deixando o do meio – também conhecido como médio (ou dedo do proctologista), totalmente à mostra como uma espada em direção ao agente de trânsito. O homem da lei forçou o mais que pode, mas não conseguiu enxergar as letras ou os números da placa. Ficou furioso. Várias pessoas começaram a sorrir. Triste sensação essa em que somos obrigados a engolir nosso ódio, sem poder saborear um gosto amargo (ou doce) da vingança. Surge o ônibus do Cohatrac. O agente dá um sinal e entra no coletivo. Entra sem dar bom dia. Vá pro inferno! Pensa. Já estava com minha comissão. Droga! Mas à frente entra um garoto. Qualhira! Está com ódio. Ainda por sina me deu o dedo! Desgraçado! E o ônibus, já sem assentos disponíveis, desce a curva do noventa. Sai uma mulher e cruza a catraca. E ele se senta. Vai pro corisco, cão. E olha para a moça. E o ônibus segue.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A sapata errada

     A manhã do primeiro dia de novembro do ano de 2013 começou bastante conturbada quando o herói deste causo se atrasou para fazer o café dele e da esposa que estava bastante PROJUDICADA por conta da idade avançada e, atualmente finada. O pequeno grande homem se vestiu nas carreiras e TACOU para a rodoviária municipal da Cidade de Bequimão quase perdendo o ônibus das 7 horas que, para a sorte dele, o motorista teve uma emergência e acabou atrasando 10 minutos.
     A curta viagem de 36 quilômetros até o povoado Cujupe foi bastante tranquila. Ao desembarcar, montou na garupa do primeiro moto táxi que passou. Foi direto para a quitanda do maior comerciante de lá, o famoso Aniceto. Conversa vai e conversa vem, entraram duas belas mulheres no comércio, Maria Cobrinha e Raimunda Cavala, mesmo já um tanto castigadas pelo impiedoso tempo, ainda faziam balançar forte o coração do nosso herói, Brola. Para dá um de BOM e conseguir ficar de bem na FITA, pediu um quarto de cana e o bebeu de um só gole.
     Brola sempre foi reconhecido por não ser aquela pessoa tão boa de beber, de se embriagar rápido. Houve relatos de que o mesmo, por diversas vezes, ao passar perto de bares e sentindo aquele cheiro inconfundível de bebida alcoólica, acabou ficando completamente embriagado. Após o copo de cachaça, foi bastante tonto e cambaleando para o cemitério que fica localizado no bairro da Chã. Tinha que pintar a sapata (sepultura) da mãe Vicência.
     Ao adentrar no solo sagrado e com a cabeça já pesada, sentiu uma fina brisa percorrer o corpo de estatura  mediana, um metro e quarenta centímetros. Essa brisa fez algumas PINDOVAS se moverem no fundo, arrepiando o ESPINHAÇO de Brola por completo. Pegou rapidamente o pincel mais a tinta e se DANOU a pintar a sapata por completa. Fez um serviço razoável.
     De lá, foi com a sua faquinha na cintura e camisa três quarto aberta até a casa do tio, que foi o homem mais importante de toda aquela produtiva região. Chegou trôpego e caiu logo na porteira, sendo socorrido por Yvi e Uri. Deram um bom bandeco à ele até forrar o bucho. Tirou uma longa soneca e, ao acordar, solicitou a Uri que o levasse ao porto para pegar o ônibus das 3 horas. Montou, na arrancada quase cai. Quis beber mais um quarto quando chegou no destino mas foi INCANCELADO pelo motoqueiro profissional. Partiu para Bequimão.
    No segundo dia de novembro, o povoado todo foi ao cemitério acender velas aos entes queridos e encontraram a sapata da finada Mundica pintada. Quem havia pintado?