O trânsito estava, como sempre
naquela hora, tenso. Uma Honda, dirigida por um boliviano de trinta anos,
carregava também um garupa. Na faixa dos vinte e cinco anos, esse flamenguista
tinha, ao contrário do piloto, um amplo conhecimento do que Zé Sarney chama de
maranhensidade. Tinham que contornar a Avenida Jerônimo de Albuquerque na
altura no Espetão. Era fácil. No entanto, muitos carros se espremem no sinal em
frente da Bela Napoli. O sinal está amarelo. O motoqueiro tem uma idéia, que
raramente é seguida por algum maranhense, sobretudo no trânsito: contornar logo
e entrar direto na avenida, sem o contorno ao lado da Convel. Mas eis que surge
um olhar, que mais parecia um radar. Um guarda da SMTT, escondido atrás da
parada logo acima, já preparadíssimo para, com uma caneta Bic, aplicar uma
multa severa no infeliz condutor daquela moto. Mas eis que surge um doutor em maranhensidade. A
mão esquerda, graúda (daria até para entrar no time titular do Maranhão
Handebol), tapou completamente a placa, deixando escapar apenas um H (do
início). Com a outra mão, o garupa, espremeu os quatro dedos, deixando o do
meio – também conhecido como médio (ou dedo do proctologista), totalmente à
mostra como uma espada em direção ao agente de trânsito. O homem da lei forçou
o mais que pode, mas não conseguiu enxergar as letras ou os números da placa.
Ficou furioso. Várias pessoas começaram a sorrir. Triste sensação essa em que
somos obrigados a engolir nosso ódio, sem poder saborear um gosto amargo (ou
doce) da vingança. Surge o ônibus do Cohatrac. O agente dá um sinal e entra no
coletivo. Entra sem dar bom dia. Vá pro inferno! Pensa. Já estava com minha
comissão. Droga! Mas à frente entra um garoto. Qualhira! Está com ódio. Ainda
por sina me deu o dedo! Desgraçado! E o ônibus, já sem assentos disponíveis,
desce a curva do noventa. Sai uma mulher e cruza a catraca. E ele se senta. Vai
pro corisco, cão. E olha para a moça. E o ônibus segue.
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
A sapata errada
A manhã do primeiro dia de novembro do ano de 2013 começou bastante conturbada quando o herói deste causo se atrasou para fazer o café dele e da esposa que estava bastante PROJUDICADA por conta da idade avançada e, atualmente finada. O pequeno grande homem se vestiu nas carreiras e TACOU para a rodoviária municipal da Cidade de Bequimão quase perdendo o ônibus das 7 horas que, para a sorte dele, o motorista teve uma emergência e acabou atrasando 10 minutos.
A curta viagem de 36 quilômetros até o povoado Cujupe foi bastante tranquila. Ao desembarcar, montou na garupa do primeiro moto táxi que passou. Foi direto para a quitanda do maior comerciante de lá, o famoso Aniceto. Conversa vai e conversa vem, entraram duas belas mulheres no comércio, Maria Cobrinha e Raimunda Cavala, mesmo já um tanto castigadas pelo impiedoso tempo, ainda faziam balançar forte o coração do nosso herói, Brola. Para dá um de BOM e conseguir ficar de bem na FITA, pediu um quarto de cana e o bebeu de um só gole.
Brola sempre foi reconhecido por não ser aquela pessoa tão boa de beber, de se embriagar rápido. Houve relatos de que o mesmo, por diversas vezes, ao passar perto de bares e sentindo aquele cheiro inconfundível de bebida alcoólica, acabou ficando completamente embriagado. Após o copo de cachaça, foi bastante tonto e cambaleando para o cemitério que fica localizado no bairro da Chã. Tinha que pintar a sapata (sepultura) da mãe Vicência.
Ao adentrar no solo sagrado e com a cabeça já pesada, sentiu uma fina brisa percorrer o corpo de estatura mediana, um metro e quarenta centímetros. Essa brisa fez algumas PINDOVAS se moverem no fundo, arrepiando o ESPINHAÇO de Brola por completo. Pegou rapidamente o pincel mais a tinta e se DANOU a pintar a sapata por completa. Fez um serviço razoável.
De lá, foi com a sua faquinha na cintura e camisa três quarto aberta até a casa do tio, que foi o homem mais importante de toda aquela produtiva região. Chegou trôpego e caiu logo na porteira, sendo socorrido por Yvi e Uri. Deram um bom bandeco à ele até forrar o bucho. Tirou uma longa soneca e, ao acordar, solicitou a Uri que o levasse ao porto para pegar o ônibus das 3 horas. Montou, na arrancada quase cai. Quis beber mais um quarto quando chegou no destino mas foi INCANCELADO pelo motoqueiro profissional. Partiu para Bequimão.
No segundo dia de novembro, o povoado todo foi ao cemitério acender velas aos entes queridos e encontraram a sapata da finada Mundica pintada. Quem havia pintado?
A curta viagem de 36 quilômetros até o povoado Cujupe foi bastante tranquila. Ao desembarcar, montou na garupa do primeiro moto táxi que passou. Foi direto para a quitanda do maior comerciante de lá, o famoso Aniceto. Conversa vai e conversa vem, entraram duas belas mulheres no comércio, Maria Cobrinha e Raimunda Cavala, mesmo já um tanto castigadas pelo impiedoso tempo, ainda faziam balançar forte o coração do nosso herói, Brola. Para dá um de BOM e conseguir ficar de bem na FITA, pediu um quarto de cana e o bebeu de um só gole.
Brola sempre foi reconhecido por não ser aquela pessoa tão boa de beber, de se embriagar rápido. Houve relatos de que o mesmo, por diversas vezes, ao passar perto de bares e sentindo aquele cheiro inconfundível de bebida alcoólica, acabou ficando completamente embriagado. Após o copo de cachaça, foi bastante tonto e cambaleando para o cemitério que fica localizado no bairro da Chã. Tinha que pintar a sapata (sepultura) da mãe Vicência.
Ao adentrar no solo sagrado e com a cabeça já pesada, sentiu uma fina brisa percorrer o corpo de estatura mediana, um metro e quarenta centímetros. Essa brisa fez algumas PINDOVAS se moverem no fundo, arrepiando o ESPINHAÇO de Brola por completo. Pegou rapidamente o pincel mais a tinta e se DANOU a pintar a sapata por completa. Fez um serviço razoável.
De lá, foi com a sua faquinha na cintura e camisa três quarto aberta até a casa do tio, que foi o homem mais importante de toda aquela produtiva região. Chegou trôpego e caiu logo na porteira, sendo socorrido por Yvi e Uri. Deram um bom bandeco à ele até forrar o bucho. Tirou uma longa soneca e, ao acordar, solicitou a Uri que o levasse ao porto para pegar o ônibus das 3 horas. Montou, na arrancada quase cai. Quis beber mais um quarto quando chegou no destino mas foi INCANCELADO pelo motoqueiro profissional. Partiu para Bequimão.
No segundo dia de novembro, o povoado todo foi ao cemitério acender velas aos entes queridos e encontraram a sapata da finada Mundica pintada. Quem havia pintado?
sábado, 26 de novembro de 2016
CAUSOS DO CUJUPE
RAIMUNDO
PAIACO E O CHAMATÓ
Numa noite de maio, após
um longo dia de chuva, Raimundo Paiaco acordou no meio da noite, quase já de
madrugada, sentindo uma dolorosa contração no ventre, e logo em seguida a
necessidade imperiosa de praticar certo ato fisiológico de que nenhum indivíduo
se pode eximir. Caçou debaixo da rede as sandálias e não encontrou nada.
Farejou em outros cantos do quarto. Nada. Mas a situação exigia rapidez.
Levantou silenciosamente para não acordar Luíza e as filhas. Foi pé ante pé à
rede da filha Conceição. Felizmente encontrou o que queria: o chamató. Verdade
que nunca tinha usado aquilo. Mas vá lá. Sempre tem a primeira vez. Enfiou o pé
direito; depois, o esquerdo e saiu. Caía um sereno forte. Mais para chuvisco.
Apressou os passos. Aqui e ali um tropeção. Quase cai ao adentrar o mato em
direção ao local em que ele e sua família expeliam os excrementos do dia.
Chegando ao local, acocorou-se, abaixou a bermuda. Felizmente estava sem
cuecas. Aliviou o ventre. Agora era só pegar um ou duas folhas de pindova e
tratar da higiene. Procurou, mas não achou à mão. Levantou-se, com muito
cuidado, pois a roupa não poderia subir à cintura. Precisava dar uns dois
passos. Adentrou bem os pés no chamató e se preparou para ir à caça do objeto a
ser usado na limpeza. Mas, ao passar por cima da raiz saliente que era usada
como base para os pés, escorregou. Tentou de várias formas segurar-se. Em vão. A pouca perícia com o
uso do chamató e a bermuda perto dos joelhos dificultaram enormemente a
empreitada. Acabou caindo, de costas, sobre os próprios excrementos e sobre os antigos.
Disse um palavrão naquela noite escura. Maldisse a chuva, o chamató. Aliás,
deveria se livrar logo dessa praga. Lançou-o fora. Levantou. Pegou a bermuda e
colocou logo na cintura. Depois se lava. Saiu rápido do local. Transpassou a
odienta raiz. Ganhou a porta da rua. Disse mais uma ou duas palavras brabas. Um
relâmpago clareou o terreiro. Quem passasse por ali, avistaria um raivoso
Raimundo passando debaixo da mangueira azedinha, pés descalços, em direção à
fonte. Chamató do diabo. Foi o disse e sumiu no caminho escuro.
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
Besouro
Por volta dos anos 50, o Ceará passou por uma de suas piores secas da história, fazendo com que muitos retirantes deixassem os lares à procura de um lugar melhor para se viver. Veio para as bandas do Maranhão um adolescente chamado Pedão. Logo ele se encantou por uma magnífica senhora cujupiense, então se casaram e tiveram filhos.
Pedão, desde criança, quando ia trabalhar na roça com os pais, perdia o jejum com uma cuia de cachaça da terra (muito saborosa) e alguns punhados de farinha d'água para conseguir passar o dia inteiro no trabalho pesado e só voltar na boca da noite. Com isso, ele ficou com o corpo bem forte para beber grandes doses da bebida saborosa.
Instalado no Maranhão, ficou bastante amigo de uma tradicional família do Cujupe. Foi então convidado a trabalhar na solta de Maranhãozinho. Aquela solta era gigantesca para o herói da narrativa conseguir tomar de conta sozinho, fora que à noite, sentia falta de uma companhia para conversar, tomar uma branquinha e contar causos. Quem sabe até mesmo de uma companhia feminina.
Com o passar de um mês, ele avisou o patrão das dificuldades de trabalhar sozinho. Compadecido, o patrão caridoso contratou outro empregado para as mesmas tarefas, o Paulino Coelho que é vulgarmente conhecido como Paulo, Paulão ou somente Pauleta. Paulino era bastante jovem e já tinha experimentado poucas vezes essa bebida de cheiro forte e inesquecível.
Com o passar de quatro ou cinco semanas de trabalho tinino (muito pesado), os dois companheiros de profissão e grode estavam a beber de duas ou três garrafas por dia. Paulão que era e é bastante esperto, começou a perceber que quando se era comprado três garrafas, sempre bebiam duas garrafas e meia até a hora de dormir, mas quando acordavam, a metade restante estava completamente seca.
Pedão encontrou a resposta exata para o fato, era um BESOURO que habitava as terras do Cujupe e que se alimentava de cachaça.
Pedão, desde criança, quando ia trabalhar na roça com os pais, perdia o jejum com uma cuia de cachaça da terra (muito saborosa) e alguns punhados de farinha d'água para conseguir passar o dia inteiro no trabalho pesado e só voltar na boca da noite. Com isso, ele ficou com o corpo bem forte para beber grandes doses da bebida saborosa.
Instalado no Maranhão, ficou bastante amigo de uma tradicional família do Cujupe. Foi então convidado a trabalhar na solta de Maranhãozinho. Aquela solta era gigantesca para o herói da narrativa conseguir tomar de conta sozinho, fora que à noite, sentia falta de uma companhia para conversar, tomar uma branquinha e contar causos. Quem sabe até mesmo de uma companhia feminina.
Com o passar de um mês, ele avisou o patrão das dificuldades de trabalhar sozinho. Compadecido, o patrão caridoso contratou outro empregado para as mesmas tarefas, o Paulino Coelho que é vulgarmente conhecido como Paulo, Paulão ou somente Pauleta. Paulino era bastante jovem e já tinha experimentado poucas vezes essa bebida de cheiro forte e inesquecível.
Com o passar de quatro ou cinco semanas de trabalho tinino (muito pesado), os dois companheiros de profissão e grode estavam a beber de duas ou três garrafas por dia. Paulão que era e é bastante esperto, começou a perceber que quando se era comprado três garrafas, sempre bebiam duas garrafas e meia até a hora de dormir, mas quando acordavam, a metade restante estava completamente seca.
Pedão encontrou a resposta exata para o fato, era um BESOURO que habitava as terras do Cujupe e que se alimentava de cachaça.
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
Árvores do Cujupe: Jutaizeiro
Jutaizeiro - ou jatobazeiro - é uma árvore da família das fabáceas. Pode alcançar 40 metros de altura e 2 metros de diâmetro. As folhas são compostas por 2 folíolos, semidecíduas, coriáceas, com 6 a 14 cm de comprimento e 3 a 5 cm de largura. A floração ocorre na época de seca do ano e a frutificação ocorre cerca de 4 meses depois. A casca externa apresenta uma coloração cinza clara a marrom e tem cerca de 10 milímetros de espessura. Peixe-Galo e Manoel Pé-Largo faziam de suas cascas, nos anos 80, moitões para barquinhos de butiti.
Os frutos têm o formato de vagens oblongas, com casca de cor
castanho avermelhado, apresentando várias sementes cobertas por uma polpa de
cor amarelo pálida, farinácea, bem adocicada e mucilaginosa.
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
Palavras e Expressões do Cujupe
ITACURUBA
Pronunciada no Cujupe sem o I, apenas tacuruba, significa pedra de apoio às panelas e aos cadeirões em fogões a lenha.
Exemplo: Zeca do Cujupe escolheu três (i)tacurubas para o novo fogão do Itapeua.
Causos do Cujupe
MANOEL CAVALCANTE E A MÃE D'ÁGUA
Certa vez, pelos idos de 1930, indo da Ilha Grande para o Itapeua, ao passar pela Juçara, Manoel Cavalcante ouviu um choro de criança vindo de um poço às margens do manguezal.
Aproximou-se para saber de quem se tratava e avistou uma criança loura. Ao se deslocar para saber quem era, a criança pulou dentro do poço, submergindo nas águas.
O destemido morador do Cujupe não pensou duas vezes e se bazugou nas águas do poço. Procurou em vão a criança, mas apenas encontrou uma jurará (espécie de cágado), levando-a consigo para o almoço do dia seguinte.
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