segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O LADRÃO DE MELANCIA


 Dino de Alcântara
Lá para as bandas da Baixa do Meio, Feliciano tinha uma roça, com uma maniva já graúda, um milho no ponto de apendoar e umas melancieiras carregadas. Eram de todas as espécies, grandes e pequenas, já que o lavrador havia plantado de todo tipo. Dava gosto de ver.
Porém nas últimas semanas, Feliciano entrava na roça com um pingo de tristeza e um montão de ódio no peito, devido ao roubo de muitas das melhores melancias. Parecia que todo mundo havia esquecido de plantar, mas mesmo assim queria comer. Ainda tentou vigiar. Em vão. No dia em que ia, não roubavam. No dia em que não ia, comiam a fulote. Desistiu de vigiar. Que comessem até se fartar!
Numa quinta-feira, banda de nove horas, justamente no dia em que Feliciano não havia ido à Baixa do Meio, Sertão apareceu na casa do lavrador. A prosa iniciou por um rumo que nada a tinha a ver com plantações. Sertão falou de tarrafa, de tainhas, tralhoto, etc. Depois, de mansinho, de esguelha tratou da roça do compadre.
– Compadre, eu vim aqui para lhe avisar que tão entrando na sua roça para comer melancia. O compadre tem que ficar de olho aberto. Já comeram é muita. Isso deve ser obra de João Peua, Buré e Pacamão.
Feliciano olhou bem para os olhos do compadre Sertão, depois mirou no pescoço. Ficou assombrado. Não conseguiu dizer uma única palavra: tinha uma prova irrefutável de que o compadre havia omitido alguns dos nomes envolvidos no furto: uma semente de melancia sobre a clavícula saliente, popularmente conhecida no Cujupe como cantareira.

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