Dino de Alcântara
Lá para as bandas da Baixa do Meio, Feliciano
tinha uma roça, com uma maniva já graúda, um milho no ponto de apendoar e umas
melancieiras carregadas. Eram de todas as espécies, grandes e pequenas, já que
o lavrador havia plantado de todo tipo. Dava gosto de ver.
Porém nas últimas semanas, Feliciano entrava na
roça com um pingo de tristeza e um montão de ódio no peito, devido ao roubo de
muitas das melhores melancias. Parecia que todo mundo havia esquecido de
plantar, mas mesmo assim queria comer. Ainda tentou vigiar. Em vão. No dia em
que ia, não roubavam. No dia em que não ia, comiam a fulote. Desistiu de vigiar.
Que comessem até se fartar!
Numa quinta-feira, banda de nove horas, justamente
no dia em que Feliciano não havia ido à Baixa do Meio, Sertão apareceu na casa
do lavrador. A prosa iniciou por um rumo que nada a tinha a ver com plantações.
Sertão falou de tarrafa, de tainhas, tralhoto, etc. Depois, de mansinho, de esguelha
tratou da roça do compadre.
– Compadre, eu vim aqui para lhe avisar que tão
entrando na sua roça para comer melancia. O compadre tem que ficar de olho
aberto. Já comeram é muita. Isso deve ser obra de João Peua, Buré e Pacamão.
Feliciano olhou bem para os olhos do compadre
Sertão, depois mirou no pescoço. Ficou assombrado. Não conseguiu dizer uma
única palavra: tinha uma prova irrefutável de que o compadre havia omitido
alguns dos nomes envolvidos no furto: uma semente de melancia sobre a clavícula
saliente, popularmente conhecida no Cujupe como cantareira.
Esse buré é danado.
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