Dino de Alcântara
Lourival Santos Costa, interno da Escola de
Aprendizes Artífices do Maranhão, mais tarde Liceu Industrial de São Luís (hoje
IFMA), no início dos anos 40, teve um grande sobressalto, ao conhecer uma linda
menina, filha de um dos sócios do Circo dos Sonhos, instalado para as bandas do
Diamante. Foi uma paixão fulminante, dessas que não nos deixam outra saída,
senão o enfrentamento. Ia todos os dias ao circo para ver a musa. À noite, com
o coração em prantos, imaginava o dia em que não a veria mais, já que a arte
circense é mambembe: hoje está numa cidade, amanhã pode estar em outra. Até que
num sábado de setembro, ao chegar ao Diamante, encontrou apenas o local em que
estava armado o circo. Nem sinal da Amélia, a menina do olhar feiticeiro.
Descobriu, através de uma moradora do bairro, que tinham ido para o Piauí na
sexta-feira, no trem São Luís-Teresina. Passou dias e noites tentando encontrar
uma forma de viajar ao sertão, atravessando o rio Parnaíba.
Assim,
depois de uma fuga exitosa, das janelas da escola federal, Lourival tomava o
trem de passageiros em direção à Teresina. Como não conseguiu com os amigos,
nem com o maquinista o dinheiro necessário para a viagem, foi em cima de um dos
vagões. Ao chegar à Estação Ferroviária de Teresina, o jovem do Cujupe desceu
com as costas em petição de miséria, tanto que teve de ser levado a um hospital,
dadas as queimaduras nas costas, com as faíscas da famosa Maria Fumaça. Sem ter
lido o romance de Victor Hugo, Trabalhadores
do Mar, agiu como Gilliat: enfrentou mares e fúrias (no caso de Lourival:
sacolejos, fome, sede, sol, frio, queimaduras, etc.) em nome de uma paixão,
que, aliás, nem durou dois meses.