sexta-feira, 18 de agosto de 2017

FOLEIRO E O CAIXÃO NA ENCRUZILHADA



 Dino de Alcântara
No grande romance da Literatura Brasileira – Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa –, Riobaldo faz ou acredita fazer um pacto com o demônio numa encruzilhada. No Cujupe, dos tempos idos e vividos, foi numa encruzilhada que Cancão uma vez viu um porco enorme, tão feio, que na sua vista era uma assombração.
Por sua vez, Foleiro (no batistério, José Raimundo) dizia nas rodas de conversa que no dia em que olhasse um caixão numa encruzilhada iria mirar para saber o que havia dentro.
E assim, numa noite de maio, depois de várias partidas de baralho na casa de Aniceto, os competidores saíram cada um para a sua casa. Foleiro era o único que tinha de ir para o sítio de Mariano Mata-Gato. Ao chegar à encruzilhada do caminho para a casa de Felipe de Paulo, avistou, a uns dez passos, um caixão com quatro velas acesas. Ficou perplexo com a miragem. Não eram velas comuns, eram velas de defunto, grandes, duas na cabeceira e duas na outra parte. Foleiro empacou. De súbito, teve um ímpeto. Dirigiu-se afoito para o caixão e o examinou. Nessa hora, uma visão estranha encantou-o. Saiu em disparada no escuro. Entrou num bananal, saiu numa capoeira, desceu uma gruta, subiu um barranco. Passou por dentro de uma roça de mandioca. Ganhou o caminho da Ostra, entrou novamente no mato para os lados da Matinha e se perdeu no matagal fechado.
Em casa, os familiares deram pela falta de Foleiro logo depois da meia-noite. Era estranho que até aquele momento não tivesse chegado. Cachopa foi mais Sabino à casa de Aniceto. Tudo fechado. Não havia dúvida: Foleiro tinha sido encantado por uma assombração. Faltava saber duas coisas: quem tinha assombrado – se Curupira, Mãe-d’água, Curacanga – e onde ele estava. Nessa madrugada, quase todos os familiares saíram munidos de lanterna, farol, lamparina, pedaço de pau, patacho, etc. atrás do assombrado.
Passaram a noite toda em desespero. Foram encontrá-lo depois das oito horas, desmaiado numa raiz de um bacurizeiro na Matinha, já perto da Ilha Grande. Foi levado para casa na rede. Indagado sobre as causas do ocorrido, disse apenas que desde que tinha saído da casa de Aniceto, depois do jogo de baralho e avistado um caixão, aproximando-se dele para mirar dentro, não se lembrava de nada. Levou três dias e três noites com febre e calafrio. Foi bento (benzido, no entender de Cachopa) três vezes por Maria Castro. Desde esse dia, ninguém passava mais nessa encruzilhada sem um temor horrível de assombração.

Um comentário:

  1. Esse sujeito era muito corajoso foi o único q teve coragem de enfrentar a situação

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