Dino de Alcântara
As doenças contagiosas
sempre despertaram uma preocupação nas sociedades antigas, medievais e
modernas. A hanseníase, varíola, cólera, peste bubônica, sarampo, tuberculose, catapora,
gripe espanhola, a caxumba e, a mais recente, covid-19 mataram centenas de
milhões de pessoas ao longo dos séculos.
A prevenção, quase sempre,
foi o isolamento dos doentes. No Maranhão, as autoridades sanitárias criaram,
no século XX, o hospital no Bonfim, com o nome de colônia, separado da cidade
pelo Rio Bacanga. No Filipinho, havia o sanatório para os doentes de
tuberculose. Para as outras doenças, com curas mais rápidas, a exemplo do
sarampo, da catapora, da caxumba, da gripe espanhola, etc. cada um cuidava de
si no Maranhão até meados dos anos 70 do século XX.
No Cujupe e em outros
lugares em que a ciência tinha mais dificuldades de penetrar, dadas as
circunstâncias socioeconômicas e geográficas, era um medo terrível. Quando
algum barqueiro viajava a São Luís e descobria um surto de sarampo, caxumba ou outra
doença contagiosa, voltava imediatamente, sem frequentar os lugares públicos e
aqueles que lhe traziam algum prazer ao estômago e à carne.
Nos idos de 1960, Estêvão
não conseguiu se prevenir e voltou à sua terra, o Cujupe, com o vírus do
sarampo. Quando a notícia correu o povoado, muita gente entrava no mato perto
de sua casa, para não passar na porta do doente.
Com 15 dias, já bem
melhor, Estêvão resolveu ir até a sua roça. Precisava ver se os porcos do mato
estavam devorando a plantação de mandioca. Quando chegou a uma bifurcação de
caminho, avistou Cancão que voltava da lida diária. Cancão levou um susto
enorme. Parecia estar vendo bem defronte de seus olhos uma curacanga ou um
lobisomem. Estevão não parou, mesmo sabendo do pavor que sua presença
provocava. Momento de pânico. Cancão precisava tomar uma decisão urgente.
Tomou. Entrou no mato, rasgando tiririca nos braços e nas costas. Tinha de se
afastar o máximo do caminho em que o doente tinha andado. O cofo de buriti que
trazia ficou para trás. Não podia andar no mato com aquele peso nos ombros. Uma
hora depois, todo cortado de cipó, capim navalha e tiririca, Cancão saiu na
campina. Ao chegar em casa, correu direto à fonte. Tomou um banho demorado.
Voltou para casa disposto a não passar tão cedo naquele caminho contaminado.
Três dias depois, Cancão
amanheceu com febre, moleza no corpo, irritação nos olhos, algumas manchas pelo
corpo e um medo descontrolado de morrer. Havia sido contaminado.