quinta-feira, 7 de maio de 2020

AS DOENÇAS CONTAGIOSAS E O ISOLAMENTO


Dino de Alcântara



As doenças contagiosas sempre despertaram uma preocupação nas sociedades antigas, medievais e modernas. A hanseníase, varíola, cólera, peste bubônica, sarampo, tuberculose, catapora, gripe espanhola, a caxumba e, a mais recente, covid-19 mataram centenas de milhões de pessoas ao longo dos séculos.

A prevenção, quase sempre, foi o isolamento dos doentes. No Maranhão, as autoridades sanitárias criaram, no século XX, o hospital no Bonfim, com o nome de colônia, separado da cidade pelo Rio Bacanga. No Filipinho, havia o sanatório para os doentes de tuberculose. Para as outras doenças, com curas mais rápidas, a exemplo do sarampo, da catapora, da caxumba, da gripe espanhola, etc. cada um cuidava de si no Maranhão até meados dos anos 70 do século XX. 

No Cujupe e em outros lugares em que a ciência tinha mais dificuldades de penetrar, dadas as circunstâncias socioeconômicas e geográficas, era um medo terrível. Quando algum barqueiro viajava a São Luís e descobria um surto de sarampo, caxumba ou outra doença contagiosa, voltava imediatamente, sem frequentar os lugares públicos e aqueles que lhe traziam algum prazer ao estômago e à carne.

Nos idos de 1960, Estêvão não conseguiu se prevenir e voltou à sua terra, o Cujupe, com o vírus do sarampo. Quando a notícia correu o povoado, muita gente entrava no mato perto de sua casa, para não passar na porta do doente.

Com 15 dias, já bem melhor, Estêvão resolveu ir até a sua roça. Precisava ver se os porcos do mato estavam devorando a plantação de mandioca. Quando chegou a uma bifurcação de caminho, avistou Cancão que voltava da lida diária. Cancão levou um susto enorme. Parecia estar vendo bem defronte de seus olhos uma curacanga ou um lobisomem. Estevão não parou, mesmo sabendo do pavor que sua presença provocava. Momento de pânico. Cancão precisava tomar uma decisão urgente. Tomou. Entrou no mato, rasgando tiririca nos braços e nas costas. Tinha de se afastar o máximo do caminho em que o doente tinha andado. O cofo de buriti que trazia ficou para trás. Não podia andar no mato com aquele peso nos ombros. Uma hora depois, todo cortado de cipó, capim navalha e tiririca, Cancão saiu na campina. Ao chegar em casa, correu direto à fonte. Tomou um banho demorado. Voltou para casa disposto a não passar tão cedo naquele caminho contaminado.

Três dias depois, Cancão amanheceu com febre, moleza no corpo, irritação nos olhos, algumas manchas pelo corpo e um medo descontrolado de morrer. Havia sido contaminado.

3 comentários:

  1. Do isolamento físico ao isolamento social
    “As doenças contagiosas sempre despertaram uma preocupação nas sociedades antigas, medievais e modernas” e a prevenção, quase sempre, foi o isolamento físico dos doentes no Mundo, Brasil, no Maranhão e claro, no Cujupe.
    Essa preocupação com o isolamento físico no Cujupe, em função da prevenção do “coronga” vírus, talvez justifique o verdadeiro motivo de um “caboco” está sendo achincalhado, naquele povoado alcantarense, pois comenta-se que esse “caboco” pediu gentilmente ao tio “Gongon” e ao amigo “Babá” que diminuíssem a frequência de visitas em um determinado sítio e quando as fizessem, que cuidassem da higienização com uso de máscaras ou álcool em gel.
    Essa recomendação, porém, não foi bem recebida e aceita pelos familiares e amigos do “caboco” que estão condenando sua atitude. Ao invés do isolamento físico, o “caboco” tá vivendo também no isolamento social.

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  2. Coitado desse caboco. E espero que essas vasilhas não pisem no sítio.

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  3. Coitado do sujeito ele so quer fazer amizade

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