Dino de Alcântara
Raimundo Paiaco sempre foi considerado um dos maiores repentistas do Cujupe. Bastava ele chegar em qualquer parte, que logo o indagavam acerca de alguma situação, para que ele caísse numa armadilha verbal. Mas sempre se saía das armadilhas, como uma jiboia entre os caibros de uma casa coberta de pindova.
Assim numa manhã de abril, quando, na casa do forno de Gregório, Zacarias Cruz, com muitos homens alugados, estava com uma boa safra de farinha seca, Paiaco, vindo do porto do Itapeua, entrou para um dedo de prosa. Zezão foi logo dizendo: “Olha quem chegou! Não é Jonoro, o vira porco?” Raimundo estava com a frase pronta, como se já esperasse pela indagação: “Rapaz, quando entrei aqui, juro que pensava que eu era o teu pai, Caniludo,”. E deu a gargalhada reconhecida a mais de 300 metros de distância, no que foi imitado por todos, com exceção do provocador.
Alguns minutos depois, Gonçalo, querendo provocar Paiaco, indagou-lhe se ele sabia de alguma simpatia para um sujeito não virar viado. Paiaco se aproximou do forno e foi explicando: “Rapaz, dizendo André Doidinho que tem um remédio que é tiro e queda”. Nessa hora, todos os homens largaram suas tarefas e se aproximaram do contador de causo. Até o dono da safra, Zacarias, chegou mais perto para ouvir. Raimundo tirou um papel, botou um pouco de fumo Caipora, fez um cigarro, acendeu, tirou uma boa baforada e explicou a simpatia:
– A receita é simples: Tu escolhe uma galinha bonita do terreiro, pega pelas pernas e escolhe uma pena do rabo. Não pode ser da asa. Só dá certo se for do rabo.
Gonçalo quis saber do resto.
– Calma, rapaz, está com medo de sair daqui e já entrar no mato com João Peua?
– Livra... tá doido?!
Supriano mandou que Paiaco continuasse.
– Pega a pena da galinha, dobra bem dobradinha, como se fosse um papel de cigarro e coloca sempre no bolso. Não sai sem ela. É fácil assim. O sujeito nunca vai soltar a boga.
– Mas como, Paiaco? – Quis saber Pedro Leitão?
– Simples: “Quem tem pena do rabo nunca vira viado!”
E saiu em gargalhada em direção à casa de Mariano.
Excelente.
ResponderExcluirBoa prosa
ResponderExcluirPessoas de épocas diferentes
ResponderExcluirPaiaco era mesmo um dos maiores repentistas e contadores de causos do Cujupe. Mesmo com todo infortúnio, era feliz, alegre e sempre estava de bom humor. Tudo ele transformava em piada. Falava-se que ele conseguia "capar" um indivíduo pelo rasto. Isso explica o porque de muitos garotos, ao visitarem a casa do Paiaco, para conversar com suas filhas em um total de 5, sempre levavam um galho de árvore, mesmo quando não tinha praga. Eles usavam o galho para apagar as pegadas deixadas.
ResponderExcluirExcelente. Temos que fazer algum caso das 05 garotas.
ResponderExcluirUm Comentário à Obra Literária
ResponderExcluirSeu Raimundo – Primeira Parte de Duas.
Um ótimo Texto postado pelo Professor. Prima pela objetividade e clareza. Um fato histórico que fica registrado na condição de um documento que narra a realidade de um episódio, ocorrido num pacato povoado, outrora com escassos recursos.
Tive o privilégio de haver conhecido o Seu Raimundo. Uma ótima pessoa, bem-humorado, um semblante alegre, sempre com um sorriso na face, era amigo de todos habitantes do povoado. A sua convocação para o Reino do Céu, onde há muitas moradas, deixou os amigos e parentes comovidos. Há sempre um cantinho, no Paraíso Celestial, para todos que por lá aportam e que sejam possuidores de bom coração. Um bom sujeito era.
O Texto do Professor tem por pauta uma das anedotas contadas por Seu Raimundo, que dentre tantas outras, apresentava bom humor, conhecimento, advertências e alertas.
A anedota do Seu Raimundo constitui-se de conteúdo útil e proveitoso, concedendo orientações para eventuais vítimas escaparem de armadilhas preparadas ou por ignorância ou por safadeza de alguns malandros. Há pilantras que têm o instinto de menosprezar, massacrar e destruir pessoas inocentes e ingênuas, jogando-as nas sarjetas, enlameando os seus nomes e imagens, pois são ridicularizadas por pessoas que se dizem do bem, mas que não perdem a oportunidade para perseguirem as pobres vítimas.
Os delinquentes tecem e jogam as redes sobre os infelizes e menos astutos, de modo que corrompem, difamam e destroem as suas vítimas. Triste sina daqueles que confiam nos meliantes, os quais são cheios de astúcias, falsidades e traições. Após os tolos serem corrompidos, as más notícias chegam aos pais, que passam a sofrer desesperadamente, ao saberem que os seus filhos caíram em desgraça. O sentimento de vergonha, decepção e frustração solapam esses pais entristecidos, ao constatarem que seus filhos foram subjugados e humilhados.
Possível é que haja transtornos mentais e emocionais, com várias nuances comportamentais. Pode haver causas oriundas do meio ambiente, em logradouros de infame promiscuidade, em que a valorização da Ética não é um hábito cultivado. Brincadeiras de mau gosto podem desencadear atos animalescos que culminem com imbecilidades, cujos atos sejam divergentes de atos saudáveis. Pode haver várias outras motivações para a ação, inação ou omissão que repercutem em desabono. As criaturas, principalmente as indefesas, sofrem de limitações, uma mais, outras menos. (Continua).
(Continuação) - Seu Raimundo – Segunda Parte de Duas.
ResponderExcluirO lavrador Seu Raimundo, cidadão astuto, inteligente e criativo, um bom contador de histórias, surge num ambiente de trabalho, onde muitos se encontram para os labores, e propicia uma história que logo de início desperta a atenção dos presentes. Como se fosse um redentor ou salvador, decidiu lançar luzes sobre um assunto controverso ou preconceituoso. Utilizou-se de um expediente hábil, propôs narrar uma anedota, nominando-a de uma simpatia, para livrar de muitos males os desavisados. Muitos acreditam nas energias, magias, milagres e simpatias. Com o seu bom humor, um comediante que sabia como agradar os espectadores, iniciou-se a narração, a qual está bem definida no Texto, que ora se comenta.
Parece que a simpatia narrada apresenta fundamentos. Há uma combinação de fatores que levam a crer que atingiu o seu objetivo. A terapia com simpatias é usada desde tempos remotos e ainda persiste a crença. A utilização do meio escolhido leva a atingir a finalidade a que alguém se propõe. A combinação das palavras expressas leva a um sentido que permite a duplicidade de interpretação; tanto pode entender a plumagem da ave, como interpretar como sendo um sentimento doloroso a ser evitado.
Entende-se que o narrador da prosa, conceituada como uma anedota e simpatia, acreditou que forneceu uma informação que determinou que muitas mentes raciocinassem e chegassem às suas conclusões. A sua explanação pode contribuir para uma inspiração saudável a pessoas que estejam com o espírito debilitado.
O Seu Raimundo, um dos grandes contadores de histórias, concedeu muitas lições de vida aos seus amigos e trabalhadores da terra. O conto da anedota foi uma Psicoterapia Comportamental, à moda rural, campestre. O seu nome por muitos anos será lembrado, a sua existência sempre será admirada.
Deseja-se que o Criador o mantenha no Paraíso Celestial e Divino, que é a Morada Final de todas as criaturas humanas de boa vontade e de bom coração. No Seu Reino há muitas moradas, ensinou-nos o Filho do Pai Eterno, Jesus Cristo.
É merecedor de parabéns o Professor, autor do texto, por redigir e publicar uma matéria com esse teor de interesse significativo. Redação concisa, bem expressiva e de fácil compreensão. O tema abordado contém mérito e valor na área psicossocial. Deus seja louvado.
Em 5/12/20. Orlando de Itapeua.
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Excelentes considerações, Senhor Orlando de Itapeua. Apresentou muitos esclarecimentos acerca do conto/causo trazido pelo autor. É sempre muito bom para nós, leitores, termos uma maior dimensão desses nomes do Cujupe que são transformados em personagens. Suas análises dos textos são sempre muito válidas. Parabéns ao professor e escritor pela forma humorada como abordou essa questão e, ao senhor, pela brilhante análise e detalhamento de quem foi Raimundo Paiaco que, certamente, foi uma figura e tanto das bandas do Cujupe daquela época.
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