sexta-feira, 15 de maio de 2020

Caminhoneiro Expresso



Carvalhacante de Alcantacuri

O ano de ocorrência dessa galhofaria é 2020. Um período de enormes mudanças para a humanidade, para o Brasil, para o Maranhão, para o Cujupe. Quão gostoso é falar da terra do famoso poeta da Canção do Exílio, o grande Gongon. Se pegar o vasto espaço territorial deste pedaço de chão que, por muitos, é considerado a terra de onde até o Sol mente, seria capaz de pegar países como Japão e Portugal juntos e colocá-los dentro e ainda sobrar espaço. Meu Maranhão, onde alguns enganam, onde outros não ligam para o próximo.
No início do mês de abril, quando o pico pandêmico da COVID-19 chegou a níveis exagerados, muitas famílias da Grande Ilha começaram um verdadeiro êxodo em direção aos interiores do Maranhão, principalmente no que tange à Baixada Maranhense. Região esta onde concentra-se a maior parte dos grandes lagos e ‘Puções’, mas onde também, em virtude da localização e proximidade(apenas esta), a região Litorânea acaba recebendo o nome de Baixada.
Há um caminhoneiro  no bairro da Gancharia que adora gargantear que é um excelente motorista e sabe dirigir os maiores transportes que qualquer um pode imaginar. Aliás, ele não é excelente somente dirigindo veículos longos, mas ele é excelente em tudo que faz. Certa vez, ouvi-lo dizer que sabia pilotar até mesmo um elevador para 16 pessoas, que sensação gostosa.
O caminhoneiro é gente de um povoado chamado Cirimônia, com CI mesmo. A mãe do mesmo encontra-se acamada, enredeada. Como ele é um filho maravilhoso e também trabalhador, conseguiu uma folga da sua empresa, a Expresso Caminhões & Cargas para fazer uma visita à sua amada e ilustre mãe. Pegou um carrinho na gancharia pagando apenas R$ 2,00. Desceu em frente a portaria principal da empresa Vale. Esperou mais ou menos 15 minutos até passar a van do Batista.
Fez uma viagem bastante tranquila de 1h e 30 minutos. Encontrou alguns conhecidos onde apertou a mão de todos e conversou bastante, sem o devido cuidado de usar a máscara. Também encontrou conhecidas, onde, além do aperto de mão, também deu beijos no rosto delas. Proseou muito com todos, contou suas vantagens. Assim que qualquer pessoa tentava falar algo, ele metia uma conversa por cima obrigando o ouvinte a ficar calado. Quando o ouvinte ficava calado, ele espetava com a mão para obrigar a pessoa a prestar atenção nas histórias que ele estava contando.
Chegou no porto do Cujupe. Subiu andando e triste por causa da distância entre o porto e a casa da mãe deste destemido herói. Logo em frente ao boteco do Cássio, pai de Capin e da ex dançarina Caíta, encontro um amigo. Jack Leckler com aquele jeitão abobalhado, agarrou sua mão e perguntou como estava. Seguiu viagem para a Cirimonia. Logo ao chegar na Boca do Ramal, pensou: Como sou sortudo. Ia entrando uma pick-up Hilux que vinha trazendo peixe de Bequimão. Não pensou duas vezes, entrou na boleia da Hilux e seguiu viagem falando como o carro era macio e não deixou o motorista falar. Depois de passar pelo Itapeua e povoado Cujupe, chegou na Cirimonia e desceu. Agradeceu e, sem querer querendo, acabou falando ao motorista que a esposa estava com o Corona. O motorista que nada tinha falado na viagem, nessa hora que ia falar o obrigado, ficou sem voz, de uma brancura tremenda. Segundo relato do caminhoneiro, o motorista do carro de peixe ainda ficou por 10 minutos sem sair do lugar.
Sem ter o que fazer ou conversar com mãe, teve uma brilhante ideia. Começou a fazer visitas aos conhecidos e amigos do povoado onde muitos haviam deixado São Luís com medo do maléfico vírus. Visitou muitos. Uma família decidiu fechar o portão para que visitas como Babá e outros não pudessem ir, mas acharam que com o portão fechado, os visitantes iriam se tocar e dá meia volta. Mas como falado anteriormente, o caminhoneiro é muito inteligente. Ele soube abrir o ferrolho, mas os donos conseguiram fazer com que ele não entrasse através da verbalização distanciada.
No dia seguinte, ele tentou de todo jeito contato com alguém da Ilha Grande para ir buscá-lo juntamente com seus cofos e sacos de estopas chapados de manga. Ninguém se atreveu. O motorista de caminhão acabou ficando puto/pistola por não saber o motivo de ninguém querer falar com ele, soltou palavrões mentalmente pelo fato de considerar os moradores da Cirimonia deselegantes e soberbos, por não querer tirar um tempo de prosa com o mesmo. Decidiu não voltar lá tão cedo com medo de represálias.


quinta-feira, 7 de maio de 2020

AS DOENÇAS CONTAGIOSAS E O ISOLAMENTO


Dino de Alcântara



As doenças contagiosas sempre despertaram uma preocupação nas sociedades antigas, medievais e modernas. A hanseníase, varíola, cólera, peste bubônica, sarampo, tuberculose, catapora, gripe espanhola, a caxumba e, a mais recente, covid-19 mataram centenas de milhões de pessoas ao longo dos séculos.

A prevenção, quase sempre, foi o isolamento dos doentes. No Maranhão, as autoridades sanitárias criaram, no século XX, o hospital no Bonfim, com o nome de colônia, separado da cidade pelo Rio Bacanga. No Filipinho, havia o sanatório para os doentes de tuberculose. Para as outras doenças, com curas mais rápidas, a exemplo do sarampo, da catapora, da caxumba, da gripe espanhola, etc. cada um cuidava de si no Maranhão até meados dos anos 70 do século XX. 

No Cujupe e em outros lugares em que a ciência tinha mais dificuldades de penetrar, dadas as circunstâncias socioeconômicas e geográficas, era um medo terrível. Quando algum barqueiro viajava a São Luís e descobria um surto de sarampo, caxumba ou outra doença contagiosa, voltava imediatamente, sem frequentar os lugares públicos e aqueles que lhe traziam algum prazer ao estômago e à carne.

Nos idos de 1960, Estêvão não conseguiu se prevenir e voltou à sua terra, o Cujupe, com o vírus do sarampo. Quando a notícia correu o povoado, muita gente entrava no mato perto de sua casa, para não passar na porta do doente.

Com 15 dias, já bem melhor, Estêvão resolveu ir até a sua roça. Precisava ver se os porcos do mato estavam devorando a plantação de mandioca. Quando chegou a uma bifurcação de caminho, avistou Cancão que voltava da lida diária. Cancão levou um susto enorme. Parecia estar vendo bem defronte de seus olhos uma curacanga ou um lobisomem. Estevão não parou, mesmo sabendo do pavor que sua presença provocava. Momento de pânico. Cancão precisava tomar uma decisão urgente. Tomou. Entrou no mato, rasgando tiririca nos braços e nas costas. Tinha de se afastar o máximo do caminho em que o doente tinha andado. O cofo de buriti que trazia ficou para trás. Não podia andar no mato com aquele peso nos ombros. Uma hora depois, todo cortado de cipó, capim navalha e tiririca, Cancão saiu na campina. Ao chegar em casa, correu direto à fonte. Tomou um banho demorado. Voltou para casa disposto a não passar tão cedo naquele caminho contaminado.

Três dias depois, Cancão amanheceu com febre, moleza no corpo, irritação nos olhos, algumas manchas pelo corpo e um medo descontrolado de morrer. Havia sido contaminado.