Dino de Alcântara
Não se sabe quem foi o primeiro morador do Cujupe a
trocar as mensabas por portas de madeira, embora Mundica tenha atestado que
fora o velho Manoel Cavalcante, porém não há a menor dúvida sobre quem teria
inventado a mania (hoje muito comum) de colocar uma pedra na extremidade
inferior contrária à dobradiça para evitar que o vento, tão comum nos meses de
julho a novembro, estrunchasse o dormente do portal. Trata-se de Chico
Cavalcante. Sempre exagerado com os objetos, trouxe uma pedra de quase dois
quilos do Marindiua para exercer esse ofício. E deu certo. Durante meses, a
pedra cumpriu, durante o dia, a função para a qual fora determinada. Porém,
numa bela noite, em que não fosse uma coruja no bacurizeiro defronte da casa, a
noite estaria completamente em silêncio, a pedra descansando da dura jornada do
dia, em que com os ventos fortes vindos do Porto Grande, teve que segurar com
todo o peso de sua estrutura, a porta, que parecia enlouquecida para estrondar
no portal, fechando como se estivesse fugindo de uma curacanga, foi confundida
com um enorme sapo cururu. Chico Cavalcante havia pouco sonhado com visagens,
ora uma mãe-d’água, ora uma mulher de branco vindo do Poço da Baixa, levantou
para aliviar a bexiga no pé da jaqueira. Ao passar do quarto para a copa, deu
de cara, à meia luz de uma lamparina, com a pedra. Na sua vista, turva pelo
sono e pelos sonhos, era um sapo que estava bem perto da porta que dava para a
cozinha. Não teve dúvidas. Abriu bem devagar a porta, para não espantar o anfíbio,
escancarando-a. Em seguida, tomou uma boa distância, como se fosse bater um pênalti
no Estádio Nhozinho Santos contra o time do Vitória do Mar. Mediu bem o tamanho
do “sapo” e correu para ele, dando um violento chute na pedra, que a arremessou
por sobre o jirau, indo cair a uma distância de quase dez metros. No momento em
que a pedra caiu no chão, tudo ficou claro: não era sapo, era a maldita pedra
trazida do Marindiua. Uma dor chegou ao cérebro com uma força capaz de derrubar
um boi de trezentos quilos. Ao alumiar o dedão do pé direito, percebeu que a
unha tinha ido embora junto com a pedra. Tentou em vão, com a velha lamparina
de querosene, encontrar a bendita unha. Encontrou a maldita pedra somente. Pegou-a
com a mão e atirou bem longe. Voltou para a casa, amarrou no dedo grande um
pano que encontrou por ali e foi dormir. Naquele resto de noite, não pensou em
outra coisa, que não fosse essa maldita pedra.
Hahahaha. O velho Chico era meio bruto mesmo. Faz bastante falta.
ResponderExcluirCoitado do meu pai.
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