domingo, 2 de junho de 2019

RADIADO


Dino de Alcântara 
 
Radiado era um dos meninos mais endiabrados do Cujupe. Engatinhou antes do tempo. Andou antes do esperado. Mamou até quando a mãe botou pimenta malagueta nos seios. Quando aprendeu a subir nas árvores, prática comum aos moradores do Cujupe, ninguém o pegava nas brincadeiras de pega-pega. Subia nos cajueiros, na pitombeira do quintal, no oitizeiro da porta da rua do padrinho, nas ingazeiras, nas goiabeiras, nas juçareiras da baixa, etc. Certa vez, tentando se lançar de um galho para outro da pitombeira, caiu e quebrou um braço. De outra feita, sem o pai perceber, montou do boi e deu ordem para o animal sair correndo. Na curva do caminho do Jordão, caiu e quebrou a perna.
A mãe e o pai pediam a Deus que intercedesse por eles, olhando e dando juízo a Radiado. Funcionava durante uma semana, mas o endiabrado menino aprontava das suas.
Um dia, quando a mãe havia preparado um cozido de peixe, num caldeirão bem grande, Radiado perguntou o que era a comida.  A mãe disse que era bagre e bandeirado com caju azedo. O caldeirão estava ainda no fogo, o caldo fervendo, pois as brasas, entre as itacurubas, não o deixavam esfriar. Radiado tentou subir no fogão, mas não conseguiu, então colocou um mocho para espiar. Teve certa dificuldade para mirar o peixe, por isso tentou com um pano puxar a borda do caldeirão para perto de si; foi o bastante para que todo o peixe viesse a pique, derramando o caldo sobre a barriga. Todos o acudiram, lançando água fria sobre o queimado. Tarde demais. Toda a pele do peito ao baixo ventre foi perdida, mas como era jovem nasceu de novo. A partir desse dia, pegou o apelido de Bucho Novo.
Já quase adulto, começou o vício da bola e do grode. A mãe sempre ralhava, sobretudo quando bebia conhaque ou cachaça.
Um belo dia, depois de uma partida na Salina da Campina, foi com três companheiros à Quitanda do Aniceto tomar um grode de Pitu. Quando voltou, com cheiro do aguardente, sujo do jogo, a mãe reprovou o ato, dizendo que odiava a cachaça. Ouvindo isso, se escondendo atrás do avô, que fora visitar a filha, Radiado disse:
– Por isso que não vim convidar a senhora, porque eu sabia que não ia querer tomar um grode na casa do Aniceto.   

quarta-feira, 8 de maio de 2019

A cachaça e o caranguejo

Em um adorável mês de maio, por volta do ano de 2009, o casarão do Cujupe encontrava-se cheio dos Cavalcantes. Lembro-me como se fosse ontem, um Classic preto entrando pela gigante porteira, porém só um lado do portão estava aberto. A tampa da mala já vinha aberta com um enorme som troando e a buzina papocando. O motorista do carro tomou dois copos de café fresco feito pela adorável Rosinha e se atirou a beber cerveja. Por volta das 9:30 da manhã, optaram por ter caranguejo no almoço.
Pauleta e Quicão se aprumaram com cofos. O dono do carro preto e seu sobrinho da sobrancelha grossa foram a cozinha, pegaram uma garrafa de aguardente original de 51 e se dispuseram a encher dois pequenos frascos com esse elixir. Puseram uma das garrafas em um cofo e a outra, os quatro companheiros já foram entornando por uma trilha suja que até hoje passa pelo cajueiro azedinho em direção ao guariba.
Caranguejo estava bobando por causa de uma torrencial chuva que houvera na noite anterior. Rapidamente encheu-se os dois cofos, porém foi perceptível pelo tio e sobrinho que o almoço fora pegado mais rápido que a finalização do primeiro frasco do poderoso remédio. Começaram, todos os quatro, a colocar as mãos dentro do cofo. Os crustáceos beliscaram todos. Então, os quatro personagens se entreolharam e, sem dizer uma única palavra, foi chegado a um veredito. Fez-se um tipo de barreira, modelada pelas mãos de Pauleta, e soltaram todos os caranguejos. Voltou-se com cofo e meio neste dia e muita história para contar.

domingo, 4 de novembro de 2018

A FRIEIRA DE SERTÃO

Dino de Alcântara


Até os anos 80, o litoral e o interior do Maranhão viviam num abandono das autoridades sanitárias. Os governantes estavam mais preocupados com crescimento do PIB, geração de emprego e construção de obras, já que o Brasil vivia num atraso secular em relação à logística – estradas, aeroportos, ferrovias, portos, etc.
Muitos moradores do Cujupe andavam descalços, bebendo água não tratada, caminhando por vias em que porcos e outros animais também andavam. Dessa forma, eram comuns a verminose, a impingem e a frieira. Esta última acometia quase todos os moradores da zona rural do Maranhão.
Sertão foi uma das vítimas das verminoses. Pegou uma frieira, quando andava (descalço) pelo bananal de Mariano. Não soube bem  quando pegou, mas soube quando apareceu a maldita coceira entre os dedos do pé direito: numa sexta-feira de maio. Noite. Hora de dormir depois de um cozidão de bagre e pirão de farinha d’água. Deitou-se e sentiu uma vontade louca de coçar-se; primeiro com os dedos da mão, depois nos punhos da rede, em seguida com a ponta de uma faca. No dia seguinte, usou até pimenta malagueta para se curar. Tudo em vão. À noite, com o silêncio de tudo, era que a maldita mais gostava de infernizá-lo. Botou lama do Guariba, casca de siriba, leite de banana cacau. Nada. Já estava ficando preocupado. Foi então que teve a ideia de procurar Elisa. Certamente ela saberia passar um remédio tiro e queda para a maldita doença. Passou. Colocar o pé na água morna à noite, antes de dormir. Sertão foi para casa e mal pôde esperar o horário de dormir. Antes, rachou uma boa quantidade de lenha e colocou bastante água num caldeirão e atiçou por quase meia hora o fogo.  A água ficou em ponto de evaporação. Sertão experimentou com um dedo. Estava fervendo. Foi ao jirau e lavou bem o pé direito, como Elisa tinha falado, mas recusou a orientação da senhora experiente. Não quis água morna. Na cabeça dele, água morna não serviria. Teria que ser bem quente. Tirou o caldeirão das itacurubas e colocou no chão. Criou coragem e colocou um pé dentro da água fervente. Foi uma dor única. Nem quando havia cortado o pé com machado sentiu tanta dor. Ainda ficou por três segundos até os vermes morrerem. Só então retirou. Percebeu algo estranho: o pé inteiro e mais uma parte da canela estavam que nem camarão piticaia – completamente vermelhos.
Naquela noite, Sertão não sentiu coceira no pé, mas não conseguiu dormir nada, com uma dor intensa.
Dois dias depois, estava curado da frieira, mas levou quase um mês para poder andar direito pelos caminhos do Cujupe.  

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

FUTEBOL NO CUJUPE



 Dino de Alcântara
No Maranhão o futebol foi introduzido por Nhozinho Santos, quando regressou de uma viagem a Liverpool, na Inglaterra, em 1905, trazendo todos os apetrechos necessários para a prática do esporte, aliás, na época sport, e o jogo era escrito football. A primeira partida de football foi num campo ao lado da Fábrica Santa Izabel, na região central da cidade, em 1907, com os operários da fábrica e parentes e amigos do esportista maranhense.
No Cujupe, ninguém apurou o ano do início desse esporte, talvez década de 40 ou 50. Antes dessa época, o que existia no povoado eram a prática do nado, o mergulho, o trepar nas árvores, o atarracar, a rasteira, a cana de braço, etc. Porém ficou registrado nos ”anais” de história oral o iniciador do futebol naquelas bandas: Chico Cavalcante. Foi ele que, em meados dos anos 40 ou 50, levou  uma carga de mangue para a Ulen em São Luís e ficou impressionado com o esporte. Procurou na Praia Grande, com “seu” Manuel onde poderia comprar uma bola. Bem orientado, procurou a casa em que poderia adquirir o “brinquedo”. Botou dentro de um cofo e foi todo cheio de si para o barco. Quando chegou ao Porto do Itapeua, no Cujupe, tratou logo de anunciar aos moradores o novo esporte. Falou com Paiaco, Graciano, Ziquié, Felipe, Moscote, André Doidinho, Zacarias Cruz, Lino Cruz, João Comprido, Caju, Justino Pé de Sapo, Cancão, entre outros. Convidados os “craques”, passaram a escolha do campo. Depois de várias tentativas, quase sempre frustradas, com terrenos acidentados, escolheram a Salina da Campina – plana e com poucos tocos. Chico, Marianinho e Paiaco ficaram encarregados de destocar todo o terreno. Fizeram as traves e prepararam tudo o mais necessário. Num domingo de maré de quarto, com a Salina bem seca, foi marcado o início do futebol no Cujupe.  Como não conseguiram o número oficial, ficou combinado que seriam 5 jogadores de cada time. Dois goleiros, que Chico chamou de agarradores: Cancão de um lado e Moscote do outro. Para juiz da partida foi convidado Gregório, porque todos respeitavam. No primeiro jogo, Chico deu uma rasteira em Zacarias Cruz. Gregório deu falta e deu um baile de esculhambação em Chico, ameaçando expulsá-lo do campo. Não o fez, porque nas regras não estavam ainda os ditos cartões. Chico ficou bufando de raiva. Disse para Cancão que só não botava Gregório para fora dali porque era o seu irmão mais velho. A partida estava no placar de 2 X 0 para o time do Chico, já que Cancão, goleiro do time, defendeu dois chutes: um de Justino Pé de Sapo e outro de João Comprido.  Quando o time que estava perdendo foi para o ataque, a bola veio para os pés de Paiaco, que meteu o pé direito na bola, mas acabou, por engano, acertando um toco de mangue. O dedão direito perdeu a unha, e o sangue começou a jorrar. A partida teve que ser encerrada porque o jogador mais afoito do time estava sem condições, gemendo muito. Esperaram quase 15 dias para a segunda partida, com Paiaco como agarrador, já que a unha nova ainda estava por nascer. O segundo jogo deveria entrar para a história futebolística do Cujupe como a primeira partida completa. Porém, ainda no primeiro tempo, os jogadores estavam marcando muito bem os adversários. Os agarradores quase que não tinham trabalho. Os pontapés passaram a fazer parte do jogo, tanto que Gregório avisou que o jogo não ia acabar bem. Mal acabou de falar, Felipe não gostou da barata (bola entre as pernas) que André Doidinho deu nele, e meteu uma pesada no adversário. André Doidinho largou a bola e veio pronto para dar um bogue em Felipe. Teria êxito, se não fosse Caju e Lino Cruz terem-no contido. Começou então uma confusão, com muitos bate-bocas, empurra-empurra. Chico Cavalcante, brabo, correu até a beira do mangue, pegou a faca, afiadíssima, e veio em direção ao grupo. Cancão gritou para ele não fazer isso. Paiaco ainda tentou conter o tio, mas em vão. Chico correu com os olhos vidrados no grupo, com a faca em punho. Todos pararam e ficaram estáticos, com mau pressentimento; o que faria Chico? Não ameaçou ninguém, apenas pegou a bola e deu um corte certeiro, destruindo-a para sempre. Dizendo: “Pronto! Tá acabado o jogo!”. As duas primeiras partidas de futebol no Cujupe jamais foram concluídas, mas nos anais da história futebolística consta o nome de Chico Cavalcante como o iniciador desse esporte no povoado.   

terça-feira, 17 de abril de 2018

O CÃO DE GUARDA


         Dino de Alcântara

 
 
No tempo da Ulen em São Luís, o movimento de barcos a vela era intenso, sobretudo do porto do Cujupe, de onde saíam diariamente carregados de mangue para descarregar no Portinho, onde um grupo de mais de cinquenta homens manuseavam as toras de madeira dos manguezais para a combustão.
Por essa época, dono de um dos barcos (o Vitória-do-Mar), Fulgêncio tinha um grande tesouro: a esposa. Sem filhos, sem sogra em quem pudesse confiar um olhar, tinha grande receio de que a jovem esposa pudesse sucumbir a algum olhar maroto. Para uma missão espinhosa, Fulgêncio levou um cachorro para casa. Cão de guarda, bom vigia, comprado de uma mulher na Madre-Deus.
Com o tempo, Black (esse nome, desde o tempo de São Luís) vigiava a casa e a mulher do dono. Ninguém poderia entrar no terreiro, sem que o cãozinho latisse sem parar, voando com os dentes afiados. À noite, então, não deixava ninguém entrar. E era à noite que o mestre tinha mais medo de ser escorneado. 
 
 
Mas, com o passar do tempo, notou algo estranho: Black continuava implacável, mas a esposa tinha ares diferentes, cantava muito quando estava realizando algumas tarefas, como lavar, rachar lenhas, socar coco, etc. Fulgêncio ficou com certa desconfiança, mas continuou a confiar no companheiro. “Não era possível que alguém pudesse estar entrando na sua casa”, matutava o mestre quando estava enfrentando a fúria da Baía de São Marcos.
 

Até que, numa Ladainha em homenagem à Santa Bárbara, no dia 04 de dezembro, Fulgêncio fez uma descoberta das mais cruéis da sua vida: Black latia e avançava contra todos os convidados, até contra Bacima, de mais de 80 anos. O Anfitrião foi obrigado a prender o companheiro para dar um pouco de paz ao ambiente, já que ralhar com o animal não estava mais surtindo efeito. Até que Cural, vindo com ar descontraído pela ladeira da Mangueira São Joaquim, gritando; “Éh, comadre, Teresa!”, foi entrando no terreiro. De longe, Black fez tanta festa, ficou tão animado, que o visitante se viu impelido a ir até o pé de goiabeira, onde cão de guarda estava. Ao chegar, Black o beijou com tanto afeto, lambeu o rosto com tanto amor, que Cural o carregou, pondo-o no colo. Pareciam dois velhos amigos de longa data. Estarrecido, mudo, sem entender nada, um patético Fulgêncio os espiava de longe! 

 

quarta-feira, 4 de abril de 2018

DISK 190


Dino de Alcântara

Era para ser uma divertida pegadinha, mas quase se transforma num pesadelo. Depois do 11 de Setembro, parece que fazer pegadinha nos Estado Unidos era crime hediondo.
Lourival pegou o telefone público e tentou discar o número da sua casa em São Luís. Discou o nove, já que seria a cobrar, o 1 que acreditava ser um número internacional, mas ficou na dúvida e discou de novo. Antes que discasse o próximo, ouviu uma voz doutro lado da linha, falando um inglês rápido demais para entender. Percebeu tudo. Tinha discado alguma coisa errada, por isso, colocou novamente o telefone no gancho e saiu sorrateiramente. Em menos de trinta segundos, o telefone tocou. Várias vezes. Ele ficou com receio de atender e receber uma intimação. Afastou-se uns cinco metros. Novamente o som do aparelho. Lourival se afastou mais um pouco. Ficou próximo a um a uma loja.
Dez minutos depois, estavam dois carros da polícia no local. Saíram dois homens bem armados de cada viatura. Procuram em volta algum indício de crime, mas não encontraram nada. Nesse momento, Lourival teve a certeza de que estava num país diferente, em que os policiais levaram a sério o seu trabalho. O maranhense ficou tremendo, com receio de que descobrissem o seu grave delito. Felizmente tudo terminou bem. Não encontrando nada de anormal, os policiais entraram nas viaturas e foram embora. Lourival depois descobriu que havia discado, sem querer o número que no Maranhão seria o 190, e, mesmo sem dizer nada, a polícia entendeu que poderia ser um assalto e foi averiguar.
Um mês mais tarde, já acostumado a sua vida na São Luís, depois de uma viagem aos Estado Unidos (Flórida e Nova Iorque), Lourival se deparou com uma situação que o fez desejar ardentemente ter aqueles policiais americanos por perto: um assalto numa casa de sua rua. Foi fácil perceber. O portão de alumínio aberto, carro estranho parado na porta, quatro homens tinham entrado. Da sua janela, ele havia observado tudo. Não se enganara. Era um assalto. Correu ao telefone. Nem tentou o celular. Pegou o fixo e discou rápido o 190. Do outro lado da linha, no Ciops (que mais tarde descobriu o que significava), um rapaz lhe atendeu.
– Senhor, está tendo um assalto aqui no Vinhais!
– Boa noite, senhor. Em primeiro lugar, mantenha a calma. De que se trata?
– Um Assalto aqui no Vinhais, na Rua 15, perto da Delegacia.
– Sim. Assalto. O senhor pode me dizer se é assalto à residência ou a pedestre?
– Residência. São vários homens armados. Estão dentro da casa, com várias pessoas lá, criança, tudo. Pelo amor de Deus, mande rápido uma viatura.
– O senhor pode me dizer se estão armados?
– Lógico! Você acha que vão entrar na casa dos outros desarmados?
– Senhor, mantenha a calma. Não precisa se exaltar.
– Sim. Estou calmo. Mas o pessoal da casa deve está em pânico!
– Eu entendo, senhor. Sabe me dizer se eles chegaram dentro do carro dos moradores ou chegaram em outro automóvel?
– Vieram em outro, seguindo os moradores. Quando eles abriram o portão, os assaltantes entraram também. Estão lá agora.
– O senhor sabe me dizer se os assaltantes chegaram em carro tomado de assalto?
– Como vou saber, senhor? Sei lá, podem ter ido primeiro comprar um carro para assaltar ou roubaram o primeiro que encontraram.
– Sabe me dizer a placa desse carro?
– PMB-1545
– É de São Luís?
– Sei lá. Veja aí no sistema se é carro roubado.
– Sabe me dizer se tem alguém dentro desse carro?
  Não tem.
– Certo. O senhor pode me dizer o endereço desse assalto?
– Rua 15, casa número. Espera aí....  Casa 25.
– Ponto de Referência?
– Perto da Delegacia.
– Que delegacia?
– Como que delegacia? Do Vinhais. Só tem uma, senhor.
– Pode me dar outro ponto de referência?
– Na polícia não sabem o que é GPS?
– O que, senhor?
– Nada, deixa para lá!
– Senhor, mais um ponto de referência.
– Quem entra no Vinhais, vem até a delegacia e dobra a primeira à direita. Primeira rua depois da delegacia. A delegacia fica à esquerda de quem entra no Vinhais. Essa rua é a primeira à direita depois de passar pela delegacia.
– Sei. Obrigado, senhor, pelas informações. O senhor quer se identificar?
– Pra quê? Para depois contaram aos assaltantes que eu que denunciei. Não.
– Senhor, a denúncia é anônima.
– Ah! Eu acredito muito em vocês! Mas isso não importa agora. Venham logo! Depressa, pelo amor de Deus!
– Senhor, fique calmo, estamos repassando essas informações ao Batalhão Competente. Mais alguma coisa que o senhor queira informar?
– Não, só isso! Só queria pedir pressa! Está sem trânsito agora. Tem um carro da polícia bem no Elevado da Cohama. Se você avisar esses policiais, eles chegarão aqui em menos de cinco minutos.
– Tudo bem, senhor. Boa noite. Obrigado
– Boa noite.
Depois que Lourival desligou o telefone, esperou mais uns cinco minutos, nada de viatura chegar, os bandidos saíram da casa, com vários pertences, incluindo eletrodomésticos grandes, como duas televisões, um microondas, etc. Colocaram tudo no porta-malas do carro e saíram em disparada pela principal avenida, sem nenhum medo de encontrarem uma viatura pela frente. Passaram em frente da parada que fica defronte da Extra-Farma do Vinhais. Havia seis policiais numa blitz destinada a ônibus. Um dos homens da “briosa” ainda percebeu cinco malandros dentro do carro de luxo e viu Bogea dentro. Comentou com um colega: “Olha quem estava naquele carro: Bogea. Já saiu da cadeia. Vagabundo. Deve tá mentendo o bicho aqui na área.” E se concentrou no trabalho: fiscalizar passageiros em ônibus para conter a onda de assaltos a coletivo na Ilha. Enquanto isso, os criminosos desceram a Curva do Noventa em direção à Ilhinha.
Uma hora e vinte minutos depois, com todos os vizinhos dando os devidos apoios morais e psicológicos às vítimas (algumas com sinais de espancamentos), chegou uma viatura para apurar e caso. Justificaram a demora, dizendo que, assim que foram comunicados, vieram em disparada para lá. Depois de ouvirem tudo das vítimas, fizeram uma recomendação: que fossem ao Plantão Central fazer um B.O. Os moradores (quiseram esganar os policiais) se contiveram e agradeceram a boa orientação.
No dia seguinte, o Secretário de Segurança Pública do Maranhão estava dando uma entrevista no Balanço Geral apontando as causas da redução da violência no Estado entre os anos de 2015 e 2017, em comparação ao ano de 2014. Segundo o secretário, o governo vinha enfrentando a violência, com equipamentos modernos contra a bandidagem, mais viaturas, policiais bem treinados, uma rede de informação de primeiro mundo, dando mais agilidade às ações policiais. Fechou a entrevista, dizendo que a polícia do Maranhão estava equiparada às grandes corporações da Europa e dos Estados Unidos. “A Polícia do Maranhão agora é uma das melhores do Mundo!”