segunda-feira, 20 de abril de 2020

LOURIVAL E A VIAGEM DE TREM



Dino de Alcântara

Lourival Santos Costa, interno da Escola de Aprendizes Artífices do Maranhão, mais tarde Liceu Industrial de São Luís (hoje IFMA), no início dos anos 40, teve um grande sobressalto, ao conhecer uma linda menina, filha de um dos sócios do Circo dos Sonhos, instalado para as bandas do Diamante. Foi uma paixão fulminante, dessas que não nos deixam outra saída, senão o enfrentamento. Ia todos os dias ao circo para ver a musa. À noite, com o coração em prantos, imaginava o dia em que não a veria mais, já que a arte circense é mambembe: hoje está numa cidade, amanhã pode estar em outra. Até que num sábado de setembro, ao chegar ao Diamante, encontrou apenas o local em que estava armado o circo. Nem sinal da Amélia, a menina do olhar feiticeiro. Descobriu, através de uma moradora do bairro, que tinham ido para o Piauí na sexta-feira, no trem São Luís-Teresina. Passou dias e noites tentando encontrar uma forma de viajar ao sertão, atravessando o rio Parnaíba.
 Assim, depois de uma fuga exitosa, das janelas da escola federal, Lourival tomava o trem de passageiros em direção à Teresina. Como não conseguiu com os amigos, nem com o maquinista o dinheiro necessário para a viagem, foi em cima de um dos vagões. Ao chegar à Estação Ferroviária de Teresina, o jovem do Cujupe desceu com as costas em petição de miséria, tanto que teve de ser levado a um hospital, dadas as queimaduras nas costas, com as faíscas da famosa Maria Fumaça. Sem ter lido o romance de Victor Hugo, Trabalhadores do Mar, agiu como Gilliat: enfrentou mares e fúrias (no caso de Lourival: sacolejos, fome, sede, sol, frio, queimaduras, etc.) em nome de uma paixão, que, aliás, nem durou dois meses.     

3 comentários:

  1. Muito interessante essa história fez eu lembrar do meu querido tio

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  2. Lourival e sua Viagem
    20/4/20.
    A paixão do Lourival dos Santos Costa teve um início célere e do mesmo modo teve o epilogo. Como poderia ter dito o alemão Friedrich Nietzsche: “Pode haver suspeita se era ou não uma paixão; não apenas fazemos parte deste Mundo, somos este Mundo”. O texto do Blog do Cujupe não pormenoriza as motivações do final do ardente desejo. Pode ser cogitado que tenha sido vítima das armadilhas que surgem na existência humana, a energia vital, resultantes de reações físicas, químicas e biológicas, que perduram por poucos anos nos indivíduos, obedecendo ao Criador, uma Energia Maior, que comanda a Natureza e o Cosmo. As pessoas agem por Motivação de: Impulsos ou de bondade, ou de medo, raiva, ódio, paixão, necessidade, interesse material, promessa de algo vantajoso e raro, instinto sexual (energia imposta pelo Criador, para perpetuação da espécie), imposição de energia do DNA dos antepassados e ancestrais, etc.
    Os escritores têm um poder que capta o conhecimento do comportamento, disciplina e natureza humana; o escritor francês Victor Hugo tinha essa habilidade; descreveu em sua obra “Trabalhadores do Mar”, com detalhes, a façanha do personagem Gilliatt, a quem foi ofertada uma promessa de casamento pelo pai de uma fascinante moça, em troca, se ele resolvesse para o pai o problema deste, de difícil solução. Enfrentou um feroz monstro marinho e uma gama de dificuldades, obtendo vitória esmagadora contra as adversidades. No momento de receber a sua recompensa, o genitor da moça afirmou que não ia cumprir a promessa. O personagem principal do romance e da tragédia caiu em uma profunda tristeza, omissão, negligência e severa apatia, deixando-se sucumbir na praia, pela maré alta; foi um triste final. A história expõe o poder e a força dos impulsos criados por motivações ou fantasias.
    Aborda-se o evento específico que se sucedeu com o Lourival dos Santos Costa. Num impulso apaixonante, desafiou todos os bloqueios e travas e aventurou-se num projeto. Os doces momentos foram efêmeros. Por muitos anos, Lourival recordava-se daquele Estado, onde deixou escapar um grande amor de sua vida. Muitos anos depois, num belo e promissor dia, os impulsos do romântico sonhador retornaram e decidiu se casar com uma bela senhora, oriunda daquele mesmo Estado, em que havia desperdiçado, há muitos anos, uma oportunidade. Ao final, obteve um casamento feliz, com a senhora educada, gentil e também apaixonada; essa união perdurou por muitos e muitos anos e foram muito felizes. O Lourival possuía uma gigante vontade de trabalhar e era talentoso; era uma pessoa que não media sacrifícios, agia com bondade e era portador de um bom coração. A sua vida será lembrada para sempre.
    -/-/-/-
    Fim.

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