Até que, numa Ladainha em homenagem à Santa Bárbara, no dia 04 de dezembro, Fulgêncio fez uma descoberta das mais cruéis da sua vida: Black latia e avançava contra todos os convidados, até contra Bacima, de mais de 80 anos. O Anfitrião foi obrigado a prender o companheiro para dar um pouco de paz ao ambiente, já que ralhar com o animal não estava mais surtindo efeito. Até que Cural, vindo com ar descontraído pela ladeira da Mangueira São Joaquim, gritando; “Éh, comadre, Teresa!”, foi entrando no terreiro. De longe, Black fez tanta festa, ficou tão animado, que o visitante se viu impelido a ir até o pé de goiabeira, onde cão de guarda estava. Ao chegar, Black o beijou com tanto afeto, lambeu o rosto com tanto amor, que Cural o carregou, pondo-o no colo. Pareciam dois velhos amigos de longa data. Estarrecido, mudo, sem entender nada, um patético Fulgêncio os espiava de longe!
terça-feira, 17 de abril de 2018
O CÃO DE GUARDA
Dino de
Alcântara
No tempo da Ulen
em São Luís, o movimento de barcos a vela era intenso, sobretudo do porto do
Cujupe, de onde saíam diariamente carregados de mangue para descarregar no Portinho,
onde um grupo de mais de cinquenta homens manuseavam as toras de madeira dos manguezais
para a combustão.
Por essa época, dono de um dos barcos (o Vitória-do-Mar),
Fulgêncio tinha um grande tesouro: a esposa. Sem filhos, sem sogra em quem
pudesse confiar um olhar, tinha grande receio de que a jovem esposa pudesse sucumbir
a algum olhar maroto. Para uma missão espinhosa, Fulgêncio levou um cachorro
para casa. Cão de guarda, bom vigia, comprado de uma mulher na Madre-Deus.
Com o tempo, Black (esse nome, desde o tempo de
São Luís) vigiava a casa e a mulher do dono. Ninguém poderia entrar no
terreiro, sem que o cãozinho latisse sem parar, voando com os dentes afiados. À
noite, então, não deixava ninguém entrar. E era à noite que o mestre tinha mais
medo de ser escorneado.
Mas, com o passar do tempo, notou algo estranho: Black
continuava implacável, mas a esposa tinha ares diferentes, cantava muito quando
estava realizando algumas tarefas, como lavar, rachar lenhas, socar coco, etc. Fulgêncio
ficou com certa desconfiança, mas continuou a confiar no companheiro. “Não era
possível que alguém pudesse estar entrando na sua casa”, matutava o mestre
quando estava enfrentando a fúria da Baía de São Marcos.
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Kkkkkkkkkk coitado.
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