Dino de Alcântara
Lourival Santos Costa,
depois de sua fuga, em cima da Maria Fumaça, para Teresina, não teve como
voltar à Ilha dos Amores, com receio de que fosse duramente castigado pelo pai.
Da capital do Piauí seguiu, com o pessoal do Circo dos Sonhos, para Fortaleza. Depois de um longo período
na cidade de José Alencar, a saudade da sua terra e dos seus entes queridos
começou a fazer um estrago no coração do jovem do Cujupe. Essa saudade
aumentava quando Lourival ouvia canções de Nelson Gonçalves, Dorival Caymmi,
Vicente Celestino. Havia uma música que o encantava mais que as outras. Tinha
uma letra bonita. Dizia “Eu jamais te esquecerei, nem que as estrelas deixem de
brilhar!”. E ficava repetindo a palavra jamais. Jamais. Mas não sabia o que significava. Então procurou um senhor,
que parecia um velho sabido e fez a procura. O velho lhe disse: “Jamais
significa para sempre!”. Lourival repetiu: “Jamais.. para sempre”. Ficou o dia
todo com a palavra na boca. Que palavra bonita! No mesmo dia, de noite, na
pensão em que morava, de nome Marajá, de dona Maria do Carmo, conhecida como
Mariinha, escreveu uma longa carta para o pai, que morava na Madre Deus. A
missiva aludia ao pecado da fuga, o destino, o trabalho, a dureza, o sofrimento
e, finalmente, a saudade. Pedia perdão pelo desatino e concluía dizendo que
precisava voltar para os seus. O fecho da carta tinha uma frase primorosa: Meu pai, hoje tenho certeza: eu jamais lhe amarei.