segunda-feira, 29 de outubro de 2018

FUTEBOL NO CUJUPE



 Dino de Alcântara
No Maranhão o futebol foi introduzido por Nhozinho Santos, quando regressou de uma viagem a Liverpool, na Inglaterra, em 1905, trazendo todos os apetrechos necessários para a prática do esporte, aliás, na época sport, e o jogo era escrito football. A primeira partida de football foi num campo ao lado da Fábrica Santa Izabel, na região central da cidade, em 1907, com os operários da fábrica e parentes e amigos do esportista maranhense.
No Cujupe, ninguém apurou o ano do início desse esporte, talvez década de 40 ou 50. Antes dessa época, o que existia no povoado eram a prática do nado, o mergulho, o trepar nas árvores, o atarracar, a rasteira, a cana de braço, etc. Porém ficou registrado nos ”anais” de história oral o iniciador do futebol naquelas bandas: Chico Cavalcante. Foi ele que, em meados dos anos 40 ou 50, levou  uma carga de mangue para a Ulen em São Luís e ficou impressionado com o esporte. Procurou na Praia Grande, com “seu” Manuel onde poderia comprar uma bola. Bem orientado, procurou a casa em que poderia adquirir o “brinquedo”. Botou dentro de um cofo e foi todo cheio de si para o barco. Quando chegou ao Porto do Itapeua, no Cujupe, tratou logo de anunciar aos moradores o novo esporte. Falou com Paiaco, Graciano, Ziquié, Felipe, Moscote, André Doidinho, Zacarias Cruz, Lino Cruz, João Comprido, Caju, Justino Pé de Sapo, Cancão, entre outros. Convidados os “craques”, passaram a escolha do campo. Depois de várias tentativas, quase sempre frustradas, com terrenos acidentados, escolheram a Salina da Campina – plana e com poucos tocos. Chico, Marianinho e Paiaco ficaram encarregados de destocar todo o terreno. Fizeram as traves e prepararam tudo o mais necessário. Num domingo de maré de quarto, com a Salina bem seca, foi marcado o início do futebol no Cujupe.  Como não conseguiram o número oficial, ficou combinado que seriam 5 jogadores de cada time. Dois goleiros, que Chico chamou de agarradores: Cancão de um lado e Moscote do outro. Para juiz da partida foi convidado Gregório, porque todos respeitavam. No primeiro jogo, Chico deu uma rasteira em Zacarias Cruz. Gregório deu falta e deu um baile de esculhambação em Chico, ameaçando expulsá-lo do campo. Não o fez, porque nas regras não estavam ainda os ditos cartões. Chico ficou bufando de raiva. Disse para Cancão que só não botava Gregório para fora dali porque era o seu irmão mais velho. A partida estava no placar de 2 X 0 para o time do Chico, já que Cancão, goleiro do time, defendeu dois chutes: um de Justino Pé de Sapo e outro de João Comprido.  Quando o time que estava perdendo foi para o ataque, a bola veio para os pés de Paiaco, que meteu o pé direito na bola, mas acabou, por engano, acertando um toco de mangue. O dedão direito perdeu a unha, e o sangue começou a jorrar. A partida teve que ser encerrada porque o jogador mais afoito do time estava sem condições, gemendo muito. Esperaram quase 15 dias para a segunda partida, com Paiaco como agarrador, já que a unha nova ainda estava por nascer. O segundo jogo deveria entrar para a história futebolística do Cujupe como a primeira partida completa. Porém, ainda no primeiro tempo, os jogadores estavam marcando muito bem os adversários. Os agarradores quase que não tinham trabalho. Os pontapés passaram a fazer parte do jogo, tanto que Gregório avisou que o jogo não ia acabar bem. Mal acabou de falar, Felipe não gostou da barata (bola entre as pernas) que André Doidinho deu nele, e meteu uma pesada no adversário. André Doidinho largou a bola e veio pronto para dar um bogue em Felipe. Teria êxito, se não fosse Caju e Lino Cruz terem-no contido. Começou então uma confusão, com muitos bate-bocas, empurra-empurra. Chico Cavalcante, brabo, correu até a beira do mangue, pegou a faca, afiadíssima, e veio em direção ao grupo. Cancão gritou para ele não fazer isso. Paiaco ainda tentou conter o tio, mas em vão. Chico correu com os olhos vidrados no grupo, com a faca em punho. Todos pararam e ficaram estáticos, com mau pressentimento; o que faria Chico? Não ameaçou ninguém, apenas pegou a bola e deu um corte certeiro, destruindo-a para sempre. Dizendo: “Pronto! Tá acabado o jogo!”. As duas primeiras partidas de futebol no Cujupe jamais foram concluídas, mas nos anais da história futebolística consta o nome de Chico Cavalcante como o iniciador desse esporte no povoado.