Dino de Alcântara
No Maranhão o futebol foi introduzido por Nhozinho
Santos, quando regressou de uma viagem a Liverpool, na Inglaterra, em 1905,
trazendo todos os apetrechos necessários para a prática do esporte, aliás, na época
sport, e o jogo era escrito football. A primeira partida de football foi num campo ao lado da
Fábrica Santa Izabel, na região central da cidade, em 1907, com os operários da
fábrica e parentes e amigos do esportista maranhense.
No Cujupe, ninguém apurou o ano do início desse
esporte, talvez década de 40 ou 50. Antes dessa época, o que existia no povoado
eram a prática do nado, o mergulho, o trepar nas árvores, o atarracar, a
rasteira, a cana de braço, etc. Porém ficou registrado nos ”anais” de história
oral o iniciador do futebol naquelas bandas: Chico Cavalcante. Foi ele que, em
meados dos anos 40 ou 50, levou uma
carga de mangue para a Ulen em São Luís e ficou impressionado com o esporte. Procurou
na Praia Grande, com “seu” Manuel onde poderia comprar uma bola. Bem orientado,
procurou a casa em que poderia adquirir o “brinquedo”. Botou dentro de um cofo
e foi todo cheio de si para o barco. Quando chegou ao Porto do Itapeua, no
Cujupe, tratou logo de anunciar aos moradores o novo esporte. Falou com Paiaco,
Graciano, Ziquié, Felipe, Moscote, André Doidinho, Zacarias Cruz, Lino Cruz,
João Comprido, Caju, Justino Pé de Sapo, Cancão, entre outros. Convidados os “craques”,
passaram a escolha do campo. Depois de várias tentativas, quase sempre frustradas,
com terrenos acidentados, escolheram a Salina da Campina – plana e com poucos
tocos. Chico, Marianinho e Paiaco ficaram encarregados de destocar todo o
terreno. Fizeram as traves e prepararam tudo o mais necessário. Num domingo de
maré de quarto, com a Salina bem seca, foi marcado o início do futebol no
Cujupe. Como não conseguiram o número
oficial, ficou combinado que seriam 5 jogadores de cada time. Dois goleiros, que
Chico chamou de agarradores: Cancão de um lado e Moscote do outro. Para juiz da
partida foi convidado Gregório, porque todos respeitavam. No primeiro jogo,
Chico deu uma rasteira em Zacarias Cruz. Gregório deu falta e deu um baile de
esculhambação em Chico, ameaçando expulsá-lo do campo. Não o fez, porque nas
regras não estavam ainda os ditos cartões. Chico ficou bufando de raiva. Disse
para Cancão que só não botava Gregório para fora dali porque era o seu irmão
mais velho. A partida estava no placar de 2 X 0 para o time do Chico, já que
Cancão, goleiro do time, defendeu dois chutes: um de Justino Pé de Sapo e outro
de João Comprido. Quando o time que estava
perdendo foi para o ataque, a bola veio para os pés de Paiaco, que meteu o pé
direito na bola, mas acabou, por engano, acertando um toco de mangue. O dedão
direito perdeu a unha, e o sangue começou a jorrar. A partida teve que ser
encerrada porque o jogador mais afoito do time estava sem condições, gemendo
muito. Esperaram quase 15 dias para a segunda partida, com Paiaco como
agarrador, já que a unha nova ainda estava por nascer. O segundo jogo deveria
entrar para a história futebolística do Cujupe como a primeira partida
completa. Porém, ainda no primeiro tempo, os jogadores estavam marcando muito
bem os adversários. Os agarradores quase que não tinham trabalho. Os pontapés passaram
a fazer parte do jogo, tanto que Gregório avisou que o jogo não ia acabar bem. Mal
acabou de falar, Felipe não gostou da barata (bola entre as pernas) que André
Doidinho deu nele, e meteu uma pesada no adversário. André Doidinho largou a
bola e veio pronto para dar um bogue em Felipe. Teria êxito, se não fosse Caju
e Lino Cruz terem-no contido. Começou então uma confusão, com muitos
bate-bocas, empurra-empurra. Chico Cavalcante, brabo, correu até a beira do
mangue, pegou a faca, afiadíssima, e veio em direção ao grupo. Cancão gritou
para ele não fazer isso. Paiaco ainda tentou conter o tio, mas em vão. Chico
correu com os olhos vidrados no grupo, com a faca em punho. Todos pararam e
ficaram estáticos, com mau pressentimento; o que faria Chico? Não ameaçou ninguém,
apenas pegou a bola e deu um corte certeiro, destruindo-a para sempre. Dizendo:
“Pronto! Tá acabado o jogo!”. As duas primeiras partidas de futebol no Cujupe jamais
foram concluídas, mas nos anais da história futebolística consta o nome de
Chico Cavalcante como o iniciador desse esporte no povoado.